Vem de longe a tradição migratória dos portugueses. Há, neste momento, números oficiais, 2,1 milhões de portugueses registrados a viver e trabalhar fora de Portugal.
Sabe-se que na realidade há muitos mais, admite-se que o dobro, ou seja, cerca de 4 milhões.
Nos primeiros 20 anos deste século 21, em média, 75 mil portugueses migraram a cada ano. Contudo, a COVID fez a seguir baixar essa média para cerca de 60 mil por ano.
O Brasil é, historicamente, um dos grandes destinos para cidadãos portugueses. No entanto, nos tempos mais recentes, a migração intercontinental dos portugueses baixou muito.
Em 2013, 2.904 cidadãos lusos pediram residência no Brasil. Em 2024, apenas 476, o menor número deste século. Entre 2010 e 2013,o Brasil foi destino principal da emigração portuguesa, em quatro anos foram mais de 10 mil. Coincidiu com um período de grave crise financeira e económica em Portugal (tempo em que o país teve de pedir resgate financeiro internacional) enquanto a economia brasileira mostrava grande vitalidade.
Com o tempo da presidência Bolsonaro, então a coincidir com o Portugal de contas certas (governo António Costa, com Mário Centeno nas Finanças), a migração portuguesa que imediatamente antes estava muito expressiva, baixou muito, também para o destino brasileiro antes muito eleito.
Dados consolidados pelo Observatório da Emigração do Centro de Investigação e Estudos de Sociologia do Instituto Universitário de Lisboa (CIES-ISCTE) apontam esse recorde de baixa: em 2024, apenas 476 cidadãos oriundos de Portugal pediram autorização de residência em território brasileiro. Trata-se de um recuo de 13% ante o ano anterior. As informações foram consolidadas pela pesquisadora Inês Vidigal, com base nos arquivos do Ministério da Justiça do Brasil.
Rui Pena Pires, professor catedrático de Sociologia, lidera o Observatório da Emigração do Centro de Investigação e Estudos de Sociologia do Instituto Universitário de Lisboa e é coordenador do recém publicado Atlas da Emigração Portuguesas.
Ele explica-nos, a partir dos dados investigados, que os portugueses voltaram ao fluxo migratório de antes da pandemia, mas agora com uma diferença, optam maioritariamente pelo espaço de livre circulação dentro da União Europeia, onde não têm a classificação de migrantes.
Para um português de Trás-os-Montes, do Alentejo ou da Madeira, ir trabalhar ara Espanha, para a Alemanha ou o Luxemburgo é, no plano legal, igual a ir trabalhar para Lisboa ou para o Porto. E essa é a nova vaga.
Especificamente em relação ao Brasil, como já aqui ouvimos, a pesquisa da investigadora Inês Vidigal, da equipa de Rui Pena Pires, em 10 anos a quebra está a ser drástica, de cerca d 3 mil para à volta de 500 no último ano.
Esta investigadora reforça que os portugueses deixaram, por agora, a prioridade pela emigração para países de fora da União Europeia. A grande quebra atual, é a para os Estados Unidos, por razões relacionadas com atuais políticas migratórias dos EUA, mas também para todos os destinos intercontinentais antes muito procurados, incluindo Brasil, Venezuela, África do Sul, Angola também na Ásia e no Pacífico, incluindo a Austrália – para onde se mantém a preferência, quer de estudantes universitários, quer de cientistas e quadros com alta qualificação.
A preferência entre os imigrantes portugueses tem sido na proximidade europeia por Espanha, França, Alemanha, Suíça e, mais recentemente, pelos Países Baixos, países que, por serem, como Portugal, da União europeia, dispensam autorizações de residência e de trabalho.
No total, o Brasil registou, em 2024, entradas de 37.302 emigrantes chegados ao seu território. Os portugueses representaram apenas 1,3% desse total.
Estes números consolidados por Inês Vidigal reforçam o que mostrou, recentemente, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O Censo de 2022 indicou que, pela primeira vez na história, os portugueses deixaram de ser a maior comunidade de imigrantes no Brasil, sendo superados pelos venezuelanos.
Em compensação, o fluxo de brasileiros para Portugal disparou a partir de 2017. Em 2024, os trabalhadores brasileiros em território luso contribuíram com quase 1,4 bilhão (mil milhões) de euros para a Segurança Social.
Não se sabe, oficialmente, quantos são os brasileiros que atualmente vivem legalmente em Portugal, pois a Agência para a Integração, Migrações e Asilo (AIMA) não detalha os dados por nacionalidade. O primeiro-ministro português, Luís Montenegro, assegura que a comunidade brasileira passa de 550 mil pessoas.
Admite-se que sejam cerca de 800 a 900 mil os brasileiros que residem e trabalham em Portugal, sendo decisivos, a par de outros migrantes, para o funcionamento do país.
Na avaliação da pesquisadora Inês Vidigal, o perfil do emigrante português no Brasil tornou-se totalmente masculino: “Em 85% dos registos, falamos de homens com idade média de 40 anos, muitos investidores e funcionários de empresas portuguesas com filiais no Brasil”.
Nos últimos meses está a crescer o número de jovens casais portugueses que escolhem viver no Brasil, a explorar pequenas pousadas de turismo local ou em atividades culturais.
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