Eles moram na Austrália e vão ver a Copa do Mundo no Catar

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José Marcio Santos (de chapéu vermelho), que vive em Sydney, ao lado dos amigos Tiago (ao lado dele), Egidio e Claudia na Rússia em 2018. O Catar será seu quarto Mundial: "Cada vez é uma emoção diferente";

Do barbeiro e o estudante que vão pela primeira vez aos veteranos do maior evento do futebol do planeta, a vida que levam na Austrália permite curtir o Mundial de futebol mesmo com a crise econômica no planeta.


Com a crise econômica, o planeta ainda saindo da pandemia, uma guerra lá fora, o câmbio desvalorizado e a inflação no mundo todo judiando da qualidade de vida, assistir a uma copa do mundo no local virou, ainda mais, um sonho distante para a esmagadora maioria dos brasileiros.

Porém, é uma outra história para o brasileiro que vive na Austrália.

O câmbio forte do país, pleno emprego aliado ao maior salário mínimo do mundo fazem do sonho de acompanhar a seleção uma realidade, tanto para o estudante quanto a quem já está consolidado em sua área profissional.

É o caso de Rander Ferreira, de Perth. Natural de Sumaré (SP), era bancário no Brasil. Ao vir para a Austráliar para aprimorar seu inglês, pegou o gosto em cortar cabelo. Foi estudar o ofício, abriu seu salão em Perth e conseguiu muitos clientes. Foi ali que as portas para a Copa do Mundo se abriram. É ele quem conta.
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O barbeiro Rander Ferreira, de Perth: o sonho da primeira copa passou a virar realidade numa conversa com cliente no salão.
“Foi um acontecimento engraçado. Por ser barbeiro, tenho muitos clientes, passo conversando com clientes o dia todo. Através de um certo cliente, eu comentei que queria ir pra Copa, nunca tive oportunidade. E ele coincidentemente tinha 'aplicado' e aprovado a conta dele para um dos jogos, Argentina x Arábia Saudita. E ele vendeu pra mim. Através disso eu consegui me antecipar e fechar acomodação, toda a viagem”.

Rander viaja com a esposa Renata e, além do jogo da Argentina, também vai ver a estreia do Brasil contra a Sérvia. Ele entende que, se morasse no Brasil e vivesse a vida que leva na Austrália, não conseguiria realizar o sonho dessa vez.

"No total, ficou na média de uns 10 mil dólares, por volta de 35 mil reais. Acho que o Brasil ainda fica um pouco mais caro porque a viagem para o Catar ainda é mais cara."
Eu, sinceramente, como barbeiro no Brasil não conseguiria fazer essa viagem por ser um preço muito alto
Rander Ferreira, de Perth
"E também porque o salário no Brasil não acompanha muito os gastos. 10 mil dólares australianos para quem vive aqui não é tanto para quem ganha em dólar australiano. Eu não conseguiria ter esse dinheiro para a Copa do Mundo."

Vitor Domingues é estudante em Perth. Na Austrália há três anos, trabalhava com marketing no Rio de Janeiro. Hoje estuda Business e trabalha numa loja de aluguel de carros.
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Vitor Domingues, estudante em Perth, vai assistir a 14 partidas na Copa do Mundo do Catar.
É a primeira copa do mundo na qual ele viaja para ver e decidiu ir há apenas cinco meses. Foi pagando aos poucos e vai assistir a 14 jogos no Catar. Para ele, ir ao Mundial é uma oportunidade que viver na Austrália lhe abriu.

“Se eu estivesse no Brasil, a minha realidade antes de sair eu não conseguiria organizar uma copa do mundo e assistir a tantos jogos em tão pouco tempo."
Essa é uma oportunidade que a Austrália te dá. É muito bom teu poder de compra, o salário mínimo, se você se esforçar, se organizar.
Vitor Domingues, de Perth.
"Eu sou estudante e estou conseguindo fazer essas coisas, no Brasil eu certamente não conseguiria. “

Se Rander e Vitor vão pela primeira vez, o que não falta na Austrália é brasileiro veterano de copa do mundo.

É o caso de Vladimir Costa, de 43 anos. Mineiro, é cônsul da torcida do Atlético-MG em Sydney. Na Austrália desde 2004, trabalha em Tecnologia da Informação e está indo ao seu quinto mundial de futebol masculino. Curiosamente, a semente de vir morar na Austrália foi plantada após a frustração de não conseguir ir para a Copa da Coreia do Sul e do Japão em 2002.
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Vladimir Costa durante o Brasil x Austrália da Copa da Alemanha, em 2006, em Munique: o Catar será seu quinto mundial.
“Começou em 2002, eu tive uma tentativa frustrada de assistir a Copa no Japão e na Coreia. Naquela época, ainda morava no Brasil, a internet era um pouco precária para pegar informação e comprar ingresso. Por não ter conseguido ingresso, eu tinha medo de não conseguir ingresso (por lá) pra ver os jogos. Acabou que desisti na última hora e parte desse dinheiro acabei investindo para vir pra Austrália em 2004.“

Em 2006, já residente permanente na Austrália, ele realizou o sonho indo para a Copa da Alemanha. E não parou mais.

“ E quando eu tava aqui (na Austrália), chegou a oportunidade de ir pra Copa da Alemanha (em 2006). Não consegui ingresso, fui sem ingresso, cheguei lá e consegui comprar para todos do Brasil na primeira fase. Foi muito bom, uma experiência incrível, a primeira copa."
E ali (na Alemanha 2006) praticamente decidi que iria pra todas as copas até o último dia da minha vida.
Vladimir Costa, de Sydney.
Em 2010 fui pra Copa da África do Sul, foi fantástico por ser um país grande e tive a oportunidade de viajar pelo país num motorhome. Depois fui para o Brasil em 2014, foi incrível, o Brasil é o país do futebol, incrível presenciar a festa lá. Depois fui na Copa da Rússia, país gigantesco, fiz muitos amigos, assisti a maioria dos jogos do Brasil, e agora estou indo para o Catar. Minha quinta copa. E acho que vai ser incrível também pelo fato de ser a primeira vez num país árabe.”

Na trupe ozzy-brasileira de copa do mundo de Vladimir está o carioca José Marcio Santos, Na Austrália desde 2002, é dono de uma empresa de eventos em Sydney. O Catar será seu quarto mundial.
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José Marcio Santos e Vladimir Costa no Mundial da Rússia, em 2018.
“Eu tenho um amigo que me incentivou muito e falava, vamos, você vai se amarrar, e eu ficava vendo aquelas fotos e ficava alucinado. Graças a Deus realizei este sonho e meio que me viciei."
Em cada copa a gente conhece muitas pessoas que estão no mesmo esquema. Você acaba combinando na próxima, cada vez uma emoção diferente.
José Marcio Santos, de Sydney.
"Muito legal participar desse evento, principalmente na fase de grupos, onde você vê todos os times. Depois das oitavas, os times vão diminuindo, vai diminuindo o número de torcedores e a capacidade das pessoas. É mágico, muito mágico participar da copa, recomendo a qualquer pessoa, amante do futebol ou não. Hoje mesmo estou falando com você, estou super animado, feliz em fazer parte, graças a Deus. “

Rui Ferrari vive na Austrália desde 2005. Natural de Vila Velha (ES), é controlador de tráfego de trens em Sydney. Ele se emociona com a oportunidade de acompanhar não só a seleção brasileira, como também a australiana. Foi a partir dos Socceroos que ele decidiu se mexer para ir ao Catar. E vai ver in loco nada menos que 23 partidas.

“Eu sou muito grato a tudo o que a Austrália me deu. (...) A Austrália ganhou do Peru, eu falei é a oportnidade da minha vida. Sempre tive o sonho de ir pra copa do mundo".
Eu sou muito australiano, sou muito grato por tudo o que a Austrália fez na minha vida. Eu queria ter a oportunidade de assistir aos jogos do Brasil, claro, mas eu queria ver a Austrália também
Rui Ferrari,de Sydney
"Só clicou de eu ir mesmo na copa quando a Austrália se classificou. “

Corintiano roxo, Rui Ferrari não teve uma infância fácil e nunca viu a seleção no Brasil. A primeira vez que viu um jogo do Corinthians no estádio foi no Mundial de Clubes do Japão, em 2012. E agora vai ao Mundial ver 23 jogos da Copa do Mundo. Ele está empolgado com a facilidade logística inédita que o país árabe oferece nesta Copa do Mundo.

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Rui Ferrari: todos os jogos do Brasil e da Austrália na primeira fase na Copa 2022.
E o Catar é uma coisa muito especial. Vai ser a primeira vez na história da Copa que todos os países, todos os jogos serão na mesma cidade. Eu comprei ingresso para 23 jogos.
Rui Ferrari, de Sydney.
“Vou assistir a todos os jogos da Austrália, todos os jogos do Brasil, e tenho dois jogos por dia praticamente. É acabar um jogo, pegar um ônibus, uma hora num ônibus e estou em outro estádio. Isso nunca aconteceu antes. Conheço amigos que foram pra Rússia que tinham que ficar 20 horas num trem pra ver o Brasil jogar. “

Será que estes brasileiros vão voltar do Catar com o hexa na bagagem? Em 19 de dezembro, dia da final, nós vamos saber.


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