‘Fui violentada por motorista de aplicativo em Bali e quero alertar outras mulheres’

freedom woman with backpack standing on sunrise Bali

Destino de muitos australianos e considerada um paraíso em extinção, mesmo em Bali mulheres podem ser vítimas de violência (foto ilustrativa) Source: iStockphoto / Getty

Para Lorena, de Brisbane, uma viagem à Bali, o mais popular destino de férias dos australianos, não poderia ser mais que a realização de um sonho. Mas, foi na ilha que é considerada um ‘paraíso em extinção’ que Lorena sofreu seu maior pesadelo. “Estou grata que estou viva mas não quero que nenhuma mulher passe pelo que passei”, diz.


Resumo
  • A brasileira Lorena, de Brisbane, foi à icônica ilha de Bali a convite de amigos para um casamento.
  • Dias antes do evento, ao sair de uma festa, Lorena chamou um mototaxista do app ‘Grab’ para voltar para casa.
  • Durante todo o trajeto, o mototaxista conversava muito e, segundo a polícia de Java, que prendeu o agressor, tirava a atenção de Lorena da viagem para poder levá-la a um local remoto.
  • O mototaxista foi identificado como WD e está em custódia policial em Pasuruan, East Java, confirmou a polícia.
“Revendo tudo o que aconteceu é que percebo que haviam pistas de que as coisas não estavam certas,” recorda Lorena, ao abrir essa entrevista.

São sobre essas ‘pistas’ que poderiam indicar que ela estava em perigo que Lorena, graduanda em Ciências Marítimas da Universidade Griffith de Brisbane, quer falar.

Mulheres que viajam ao exterior em grupos ou sozinhas devem estar alertas a tudo. Até mesmo no aplicativo de um Google Maps.

Na noite de domingo 6 de agosto Lorena chamou o mototaxista já identificado e em custódia policial ‘WD’.

A viagem dos arredores de Uluwatu, onde Lorena estava, para Bingin, geralmente leva 15 minutos. Mas, naquela noite, ia levar mais de uma hora.

App desligado e o desvio do trajeto

Mototaxistas colocam o telefone no guidão da moto e o aplicativo vai mostrando o caminho, com o mapa da região, o que Lorena sentiu falta e estranhou de imediato.

“Eu vi que ele guardou o telefone e achei que ele sabia o caminho por isso não estava mostrando o app com o mapa da região,” recorda.

Depois ela veio a descobrir junto à lataforma ‘Grab’ que ele havia cancelado a corrida e não queria que Lorena visse para onde a estava levando.

“Ele guardou o celular dele no bolso, e conversava muito comigo, muito amigável, às vezes eu tentava dar uma resposta mais curta e ele insistia em manter o diálogo, fazia muitas perguntas. Sinto que ele fazia isso para me distrair,” diz.

Foi quando Lorena viu que estava no local remoto, muito escuro, “no meio do mato, no meio do nada”.

Assim que chegaram ao terreno baldio ou matagal, “ele me arrancou da moto e me jogou no chão,” recorda.

Luta e tentativa de fuga

“Ele começou a falar coisas de baixo nível para mim e levantava minha saia,” diz Lorena, em um dos momentos mais difíceis de recordar.

Conforme o agressor avançava, a brasileira lutava, “Tentei furar seus olhos. Tinha uma garrafa de água na mão, vidro grosso, e tentei atingi-lo com ela, ele arrancou a garrafa da minha mão e jogou longe. Saí correndo.”

Lorena conseguiu escapar, mesmo na escuridão sem saber para onde ir, saiu correndo, correu alguns metros, se livrando dos ataques.
Eu gritava, gritava, gritava, ninguém me ouvia eu estava num lugar muito longe de tudo. E aí comecei a correr
Lorena
Isso se repetiu por algumas vezes, com o agressor sempre em seu encalço e sendo capaz de capturá-la a cada fuga.

“Foi quando ele veio para cima e colocou algo em volta do meu pescoço, fechou meu nariz e eu não conseguia mais respirar, ali eu vi que eu poderia morrer,” recorda, lembrando que quanto mais reagia mais agressivo ele se tornava, colocando sua vida em risco.

“Eu disse ‘não estou conseguindo respirar’, e ele parou com aquilo. Foi quando ele me obrigou a fazer sexo com ele. Ele disse que não ia me matar, ia fazer isso e me libertar.”

Lorena recorda que resolveu dialogar com calma com o agressor para assim evitar que ele a matasse, e foi isso que na sua visão, a salvou.

A prisão do agressor 48 horas após o ocorrido; declarações da polícia
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O porta-voz da polícia de Bali, Comissário Jansen Avitus Panjaitan confirmou a identidade de WD, que é de Java, por violência e estupro de Lorena.
O mototaxista levou Lorena de volta, deixando-a a 100 metros do hostel onde estava. Ao chegar, Lorena passou os próximos dias praticamente sem parar ou descansar.

Primeiro conseguiu imprimir a tele do app com os detlahes do motorista, o que resultou na identificação imediata de WD.

Ela então entrou em contato com o aplicativo Grab (uma das primeiras coisas que qualquer vítima deve fazer), polícia de Java, hospital, onde fizeram recolha de amostras de DNA, embaixada brasileira.

O porta-voz da polícia de Bali, Comissário Jansen Avitus Panjaitan, detalhou a prisão do agressor, citando que a polícia inicialmente rastreou a residência de WD em Kerobokan, mas ele já havia deixado o local.

As autoridades descobriram mais tarde que ele reservou um carro de viagem para Pasuruan, East Java, para fugir da polícia.

“Ele queria ir para a casa de seu tio em Pasuruan”, confirmou o policial Jansen.

O estupro teria ocorrido nas primeiras horas da segunda-feira 7 de agosto em um terreno baldio na rua Nyang-nyang, em Jimbaran, South Kuta.

“Durante todo o passeio, ele supostamente continuou conversando com Lorena para distraí-la de prestar atenção na estrada,’ disse o chefe da polícia de Denpasar, Bambang Yugo Pamungkas.

A polícia de Bali trabalhou em conjunto com a polícia de East Java para localizar WD e ele foi preso na terça-feira 8 de agosto por volta das 21h30.
Bãi biển Kuta trên đảo Bali, Indonesia
Bali é um dos destinos mais populares dos australainos nas férias, feriados prolongados Source: Pixabay
Lorena hoje

Pouco mais de duas semanas do ocorrido, Lorena continuou em Bali onde teve que revisitar o local do ataque com a polícia, ‘ali encontraram a garrafa de vidro, comprovaram o DNA dele,’ além de ter que recontar essa mesma história várias vezes.

Passou horas a fio em delegacias de polícia, com apoio apenas de duas intérpretes [a polícia balinesa não fala inglês], foi exaustivamente interrogada por policiais, médicos, e outras autoridades balinesas.

Está em acompanhamento psicológico e de maneira extraordinária, clara e em detalhes, descreveu o ataque em sua conta no Instagram.

Também teve que consolar alguns amigos que sentiram culpa e que ‘desabaram’ ao saber do ocorrido. “Eu tive que consolar eles,” diz, surpresa.

Lorena agora busca por indenização por todos os custos incorridos e sente como uma missão alertar outras mulheres.

Questionada sobre o que a motivou a não se calar, não se esconder e buscar por justiça mesmo na pequena ilha paradisíaca de Bali?

“Saber que eu tinha que colocar esse cara na justiça, na cadeia. Que isso vai livrar outras mulheres de passar o que eu passei. Talvez a companhia de táxi crie um programa de segurança mais forte e ajude a polícia a melhorar o procedimento deles também que é muito atrasado.”

Enquanto espera seu retorno para a Austrália, uma boa notícia, seu pedido de residência permanente para a Austrália foi aprovado há uma semana e Lorena tem planos de fazer uma viagem à Austrália Ocidental.
Sou muito grata aos meus anjos pela minha vida e obrigada aí por compartilhar a minha história
Lorena
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