O desafio para o próximo papa: levantar a voz em diplomacia de paz

MEXICO POPE

Papa Francisco em fevereiro de 2016 em Ciudad Juarez, no México. Source: AAP / EPA

As próximas semanas vão trazer um novo papa – Francisco instalou e fez avançar - a diplomacia da paz – a esperança é a de que continue e menos só. Leia na crônica de Francisco Sena Santos.


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O Vaticano não tem tropas mas tem o poder de influência da palavra, como exército de paz. A voz do pontificado de Francisco foi poderosa na análise da realidade da vida das pessoas, mas ficou só perante os grandes poderes pelo mundo.

O Burkina-Faso, com 25 milhões de pessoas, sendo que uns 3 milhões são deslocados, gente em busca de refúgio, é uma das fronteiras da emergência climática em África, mas nestes últimos 2 anos é também é um país imerso em ondas de violência – na sequência do assalto do poder na região por juntas militares golpistas – e vagas de terror jiadista (no Burkina, no Mali, no Niger).

O Papa Francisco quis ir lá – a saúde que há 3 meses já levantava muitos impedimentos – não o deixou ir – mas o Papa quis que fosse lá um emissário dele – levar uma mensagem de esperança àquele povo em sofrimento – e que inclui uma resistente comunidade católica.

Quem viajou – há 2 meses e meio – foi em 10 de fevereiro – foi o cardeal Pietro Parolin, secretário de Estado do Vaticano, de facto então o número dois da Santa Sé. Ao desembarcar na capital, Ouagadougou, uma repórter da BBC perguntou-lhe o que é que ele ia ali fazer – porquê essa presença?

Parolin respondeu numa frase com uma dúzia de palavras: "Estou a cumprir a missão da diplomacia do Vaticano, a diplomacia da paz". Após uma insistência da repórter, Parolin acrescentou: "vimos ajudar ao respeito pelos direitos humanos, também a procurar colaborar nas necessidades alimentares, de saúde e de educação". Parolin, como porta-voz do papa Francisco, explicava assim em poucas palavras – a grande ambição da diplomacia da Santa Sé.

Talvez seja de dizer – a diplomacia franciscana – de um papa que num outro fevereiro, o de 2016 – foi dizer missa – perante uma multidão – na linha de fronteira entre os EUA e o México – os 2 lados da fronteira, Ciudad Juarez e El Paso fundiram-se num lugar cheio de fé – com o Papa a exaltar o valor da misericordia e o da esperança – e logo a seguir a deixar uma mensagem corajosa com Donald Trump a começar a primeira temporada presidencial – palavras do Papa Francisco: "quem constrói muros em vez de construir pontes – não é um cristão".

O papa Francisco dedicou os 12 anos de pontificado a tratar de construir pontes - de facto a colocar a igreja aliada da humanidade cada vez mais indefesa perante o avanço de ódios que fazem rebentar bombas e guerras com multiplicação exponencial de cadáveres, também emergências da pobreza, da fome, do clima – e até de tecmologias transbordantes fora de controlo.

O papa tratou de construir pontes com lideres políticos e religiosos. Sentou-se nos jardins do Vaticano com Shimon Peres e Macmud Abbas a tentar a concertação entre Israel e a Palestina – mas veio Netanyahu e tudo murchou, entrou o inferno.

Francisco é o papa que se reuniu com o ditador chefe da junta militar de Myanmar – a tentar a difícil ponte para que parasse a terrivel perseguição aos Rohyngya e para que os direitos humanos sejam respeitados naquela antiga Birmânia.

Também tratou pazes entre os inimigos do Sudão - é o papa que procurou o diálogo com o putiniano patriarca Kiril de Moscovo – e que foi ao Iraque pregar pela harmonia entre cristãos e muçulmanos – missão que continuaria nos Emirados.

Enfrentou os soberanismos que excluem pessoas, combateu ativamente a propaganda violenta contra os migrantes. Abriu caminhos – e o caminho dele foi o mundo inteiro -ou quase todo. Também como ativista ambiental – militante da natureza porventura movido plo lema jesuíta – contemplativo em ação.

O papa em missão de fraternidade tentou sempre introduzir o sorriso acolhedor e inclusivo de pastor afável – sempre com a esperança como inspiração maior. E sempre, também, líder religioso, com grande abertura pastoral.

Voltemos à mensagem do Papa na fronteira que está um muro em Ciudad Juarez – ele falou de misericórdia e de esperança. É isso o que também nos explica Pedro Miguel Melo, sacerdote jesuíta como Francisco – é vice-diretor internacional da rede mundial de oração do papa – Pedro Miguel está agora na África oriental e é de lá que escreve – em texto para o jornal Ponto SJ – sobre a misericórdia e esperança no papa Francisco.

A misericórdia olha o passado com a lente da reconciliação, do recomeço possível, da ferida que pode ser sarada e tornar-se compaixão. A esperança olha o futuro com a confiança de que a bondade de Deus é mais forte que o mal, que a vida entregue vencerá a morte.

Ele acrescenta - evangelizar hoje passa, de forma urgente, por transformar a nossa atitude diante do tempo. Ensinar a confiar, a esperar sem ansiedade, a reconciliar-se com o que foi, a sonhar com o que virá. As próximas semanas vão trazer um novo papa – Francisco instalou e fez avançar - a diplomacia da paz – a esperança é a de que continue e menos só.

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