O Qatar, o país que acolhe este Mundial de futebol de 2022 tem um território com tamanho semelhante ao da cidade de Sydney, até um pouco mais pequeno (não chega aos 12.000 quilómetros quadrados) e com cerca de 3 milhões de habitantes. Portanto, cerca de metade dos residentes da cidade australiana.
Meter toda a engrenagem de um Mundial de futebol dentro de um território assim pequeno é, obviamente, um quebra-cabeças.
Uma das questões são os estádios. A competição requer um mínimo de oito estádios – sobra a pergunta: e o que é que o Catar vai fazer a seguir aos oito estádios.
Esta é uma das questões que os arquitetos Mark Fenwick e Javier Iribarren colocaram à equipa do ateliê que lideram e situado em Madri. Este ateliê de arquitetura com sede na capital espanhola especializou-se no desenho de estádios e recebeu o encargo de conceber dois dos oito estádios deste Mundial no Catar.
A equipa de Fenwick e Iribarren tem na filosofia desenhar estádios que aliem a funcionalidade e conforto com a absoluta sustentabilidade ambiental.
Ora, pensaram que teriam de encontrar uma solução ousada para que o Qatar não ficasse para o futuro com uns gigantes sem uso.
Fenwick conta-nos que quando começaram o design thinking de um dos estádios pensaram nos circos, que são transportados com toda a estrutura de cidade para cidade. Assentaram basear-se na ideia de um estádio como uma grande tenda de circo. Inspiraram-se nas construções que faziam quando eram pequenos, tanto as montagens com as peças metálicas do Meccano, como as de encaixe do Lego.
Ora, um dos estádios que tinham para desenhar está mesmo ao lado do porto de Doha, na baía da capital catari. Decidiram por isso recorrer à paisagem de coloridos contentores de carga marítima que costuma envolver os portos. Optaram por reutilizar contentores marítimos reciclados como elemento essencial na estrutura do estádio.
Pensaram no Meccano com que exploravam construções quando miúdos e trataram de encaixar os contentores numa estrutura metálica que, sem deixar pesada marca ecológica favorecesse a ventilação natural, reduzindo assim a necessidade de ventilação artificial que lhes tinha ocupado tanto engenho e orçamento na construção do outro estádio que tiveram em encargo no Catar.
A estrutura do estádio é assim um Meccano gigante, em que os coloridos contentores são a base para as bancadas e encaixam em robustos suportes metálicos reversíveis.
Cedo concluíram que iriam precisar de cerca de 1000 contentores. Ao apurarem a maquete estavam entre os 970 e os 975.
Sabiam de cor que o prefixo numérico do Catar é o 974.
Assim ficou assente que o estádio na baía de Doha tem 974 lugares, como o indicativo do Qatar.
É lá que a seleção portuguesa se estreia neste Mundial, na próxima quinta-feira, diante da equipa nacional do Gana.
Quando o Mundial acabar, este estádio 974 pode ser desmontado e levado para outro lado ou mesmo, tal como está previsto no projeto, ser reconvertido em até cinco equipamentos desportivos, incluindo polidesportivos, courts de ténis, campos para basquete e andebol, também piscinas, com bancadas para públicos mais reduzidos do que os 40 mil espetadores no 974. Utilizando todos os contentores, todas as peças de suporte, nada se perde.
Solução o mais sustentável que possível no arrojo que é este Mundial de futebol no Qatar.
Siga a SBS em Português no Facebook, Twitter e Instagram e ouça os nossos podcasts. Escute a SBS em Português ao vivo às quartas e domingos ao meio-dia ou na hora que quiser na nossa página.