'O Tamanho do Mundo' é o novo romance de Lobo Antunes, sempre à beira do Nobel

Antonio Lobo Antunes

Aos 80 anos, António Lobo Antunes continua a escrever romances ao mesmo ritmo de sempre. Credit: Getty

Quando, em 98, a Academia Sueca distinguiu a escrita de José Saramago com o Nobel da Literatura, houve em Portugal quem questionasse: porquê Saramago e não António Lobo Antunes?


Os dois são figuras cimeiras da literatura portuguesa de sempre. Com estilos muito diferentes, Saramago e António Lobo Antunes tem prosa complexa.

A de António Lobo Antunes, sempre mais emocional, mais dramática, entranha-se-nos na alma, parece que nunca mais nos larga. É ao mesmo tempo poética, narrativa, discursiva.

Lobo Antunes trabalha a escrita com apuro e precisão máximas, luminosa, concretiza prodígios de expressividade.

António Lobo Antunes, que por formação é médico psiquiatra e psicólogo, atividades que exerceu até há 40 anos se dedicar por inteiro à escrita.

A arte superior da escrita está em todos os mais de 30 romances e livros de crónicas que, agora, aos 80 anos, tem publicados, muitos são obras-primas pelas na literatura de onde quer que seja — é o caso de Fado Alexandrino, Esplendor de Portugal, A Ordem Natural das Coisas, Manual dos Inquisidores, Os Cus de Judas, muitos mais.

Ele é uma voz e uma escrita que continua a ser, provavelmente, a mais poderosa da literatura portuguesa – está no pódio deste último século, juntamente com Fernando Pessoa (que ele não cultiva), Sophia de Mello Breyner, Herberto Helder, José Cardoso Pires, Agustina Bessa Luís e José Saramago.

Agora, nesta semana é publicado o novíssimo romance de António Lobo Antunes, O Tamanho do Mundo, que é um livro mais pequeno que o habitual em Lobo Antunes (não chega a 300 páginas), mais direto, menos labiríntico.

Traz-nos quatro narradores, cada um deles tomando a palavra à vez. O primeiro é um homem de 77 anos, grande empresário, está doente e obcecado por nostálgicos jogos da memória, fixado num lugar onde retroativamente descobre ter sido feliz: uma cave num bairro pobre de Lisboa, onde vivia a sua amante e a sua filha, junto a um jardim com um baloiço.

A segunda protagonista é essa filha, que prospera na empresa do pai e lhe sucede como administradora, embora ainda traga com ela as marcas da miséria em que viveu na infância.

Há mais duas personagens, digamos que colaterais que ameaçam a transferência de poder em curso: uma rapariga que consola sexualmente o homem idoso, alegrando-lhe os anos finais, sempre de olhos na fortuna; também o advogado, que é amante dela, que mexe a engrenagem jurídica para ajustar a herança à conveniência deste par.

Notável o modo como Lobo Antunes nos transmite solidão extrema do velho empresário. Começa logo no primeiro parágrafo, quando nos é dito que a solidão se mede “pelos estalos dos móveis à noite”, mas também pelos objetos que “aumentam nos naperons”.

Este O Tamanho do Mundo, mais pequeno no tamanho, é outro dos grandes livros de Lobo Antunes.

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