Douglas Alves da Silva respira futebol desde que se lembra por gente. Uma das frases que mais ouviu na vida era que o pai dele jogava muito. E jogava mesmo: o pai, Abel, foi um ponta-esquerda rápido e habilidoso do lendário Santos de Pelé, nos anos 60 e 70. Seus três irmãos também são de alguma forma envolvidos com futebol, incluindo-se Abel Neto, repórter esportivo da Globo.
Sem herdar a habilidade do pai com a bola nos pés, Douglas aprendeu que há outros caminhos para viver o esporte: formado em Educação Física, tem também formação de técnico de futebol e defende doutorado com foco no esporte na Unifesp, em Santos, onde vive. O doutorado-sanduíche o trouxe à Austrália, na Universidade de Western Sydney, onde troca conhecimento e experiências.

Douglas e o pai Abel, craque do Santos na Era Pelé: família inteira dedicada ao futebol.
Não por acaso, o tema o qual Douglas se debruça é a subrepresentatividade de atletas negros em posições associadas a liderança, organização de equipe e inteligência de jogo no futebol brasileiro.
Os estereótipos influenciam as decisões daqueles que estão no poder, mesmo de forma não intencional. Isso é uma das características do racismo institucional.Douglas Alves da Silva.
Ao mesmo tempo, há, no esporte de modo geral e em diversas partes do mundo, uma superpresentatividade de atletas negros em posições associadas a capacidade física, força, agilidade, resistência. Há uma relação entre o estereótipo e o chamado racismo estrutural. Ou seja, o racismo que não é claro, aberto, mas que está entranhado de tal forma na sociedade que torna-se não intencional, e muitas vezes invisível a quem não sente na pele as consequências.
Normalmente as pessoas chegam para nós, negros (em posições altas na sociedade), e dizem, 'tá vendo, você conseguiu chegar longe'... Prefiro dizer que sou o modelo de como é o sistema. Cheguei lá com muito esforço, mas de negro sou eu e mais uns poucos. A gente é a exceção.Douglas Alves da Silva.
Douglas foca seu doutorado nas primeira e segunda divisões do Campeonato Brasileiro de 2024. Embora ainda incompleto, o estudo de Douglas já tem números para mostrar que a elite do futebol brasileiro tem maioria de atletas negros, mas que eles são minoria nas posições de estratégia do jogo - por exemplo, como técnicos.

O pai de Douglas, Abel, foi um ponta-esquerda do lendário Santos de Pelé. "Trabalhar com futebol não é só ser jogador. Tem um mundo que você pode explorar. No meu caso, eu sou professor de futebol e futsal, e sou pesquisador", conta Douglas Alves da Silva.

Jogadores brasileiros comemoram o título da Copa do Mundo na Suécia, em 1958, o primeiro do país: "Havia o medo de como o Brasil seria retratado pelos europeus. Na estreia contra a Áustria, só o Didi era negro. Mais tarde é que entraram Djalma Santos, Pelé, Garrincha, Vavá", lembra Douglas Alves da Silva. (AP Photo) Credit: AP
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