O músico brasileiro Alcides Neto vive um momento decisivo da sua trajetória artística.
Radicado em Melbourne desde 2014, ele acaba de lançar Amuleto, primeiro single do álbum Amu, seu trabalho mais pessoal até agora e também o primeiro disco da sua carreira.
Inteiramente gravado na Austrália, um feito para qualquer músico imigrante, o álbum tem lançamento previsto para março de 2026 e marca não só uma consolidação criativa, mas também o reconhecimento crescente do seu trabalho no cenário musical australiano.
Natural de Cesário Lange, no interior de São Paulo, Alcides chegou à Austrália com planos temporários. “Eu vim para estudar inglês, ficar seis meses e acabei ficando. Onze anos depois estou aqui trabalhando como músico e também engenheiro de som”, conta.
A escolha por Melbourne não foi por acaso. “Queria um clima diferente e também explorar a cena artística, que é muito forte aqui”, explica.
O single Amuleto antecipa o universo sonoro de Amu, um álbum que mistura tradição de ritmos brasileiros percussivos com experimentação.
A faixa traz referências de samba, jazz e uma construção musical que foge das estruturas convencionais.
“Ela começa bem intimista, só violão e voz, e depois a banda entra. Não foi algo planejado, a música foi se desenvolvendo naturalmente”, diz Alcides. Segundo ele, essa fragmentação aparece em várias faixas do disco e reflete seu processo criativo livre, sem fórmulas fixas.
As referências brasileiras atravessam todo o álbum, especialmente na percussão.

Com o violão como ponto de partida, Alcides Neto traduz em música a sua trajetória entre o Brasil e a Austrália. (Foto: JamesMorrisonPhotography)
Produzir um álbum autoral longe do Brasil trouxe desafios, mas também uma troca musical inesperada.
A banda que grava e acompanha Alcides é majoritariamente formada por músicos australianos, com exceção de participações pontuais, como a do Mestre Val, seu mestre de capoeira, que toca atabaque em duas faixas.
O álbum será lançado pelo selo Music In Exile, organização sem fins lucrativos que apoia artistas imigrantes e refugiados.
Para Alcides, a parceria tem peso simbólico e prático. “Eles são muito comprometidos com a causa que escolheram trabalhar. O lucro é revertido para ajudar outros artistas, e isso faz muita diferença”, destaca.
Além do lançamento de Amu, 2026 também marca a estreia de Alcides Neto no WOMADelaide, de world music, um dos festivais mais prestigiados da Austrália.
No palco, o público pode esperar “música brasileira feita na Austrália com muito carinho”.
“Eu tento sempre representar a grandeza da música brasileira com respeito. Vamos estar com uma banda grande, muita percussão, solos e a ideia é tocar o álbum inteiro”, adianta.
Para Alcides, a música vai além da profissão.
“É quase uma prática religiosa”, diz, explicando por que optou por manter também o trabalho como engenheiro de som, garantindo independência para escolher seus projetos artísticos.
"Quando eu vivia só de música eu não tinha muito poder de escolha e fazia todo o tipo de trabalho, então fico meio alerta, claro que se uma turnê aparecer eu vou priorizar sempre a música" diz.
Sobre Amuleto, ele prefere não impor significados.
“A música não traz uma mensagem única. Ela abre um espaço para reflexão, para que cada pessoa use a informação de um jeito positivo na própria vida”, afirma.

Alcides Neto traz um repertório de músicas originais que une ritmos brasileiros, percussão e experimentação sonora. (Foto: JamesMorrisonPhotography)
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