Segundo a empresa de pesquisa Roy Morgan, a Austrália tem atualmente por volta de seis milhões e setecentos mil profissionais que trabalham de casa totalmente ou parcialmente. Este número representa 46% da população empregada do país, contra 54% que trabalha totamente de maneira presencial.
Entre os que trabalham de maneira remota e são empregados em tempo integral, 51% o faz fora do local de trabalho ao menos uma vez por semana, em comparação com pouco mais de um terço dos funcionários em tempo parcial (36%).]

Diogo Campos-Teixeira explica o momento trabalhista na Austrália: "Avaliamos os discursos do (que é) 'standard work'. Por exemplo, para uns, o trabalho padrão não é estar 100% no office. Quando ele parte desse pressuposto, já assume que aquele é o natural e, fora daquilo, é uma excepcionalidade."
O "Work From Home" é um assunto tão sério na Austrália que muitos analistas atribuem a proposta eleitoral do então líder liberal Peter Dutton, de acabar com o trabalho remoto para funcionários públicos, como um dos fatores que prejudicaram sua imagem durante as eleições de 2025.
No momento, a governadora de Victoria, Jacinta Allan, está em processo de introduzir uma lei para consagrar o direito de trabalhar de casa dois dias por semana no estado.
O governo estadual abriu uma consulta pública de sete semanas para ouvir empregadores, associações indústriais, sindicatos e outros envolvidos sobre a proposta.
Durante a pandemia, vinha acontecendo o que nos EUA foi chamado de A Grande Resignação, na qual as pessoas tinham trabalho formal, mas, com a instabilidade formal, muitos deles começaram a adotar modelos de trabalho independentes. Agora estamos neste segundo momento que eu posso chamar de uma Grande Renegociação. As organizações estão dizendo, 'ok, você saiu, mas precisamos de você. O que preciso te entregar pra você retornar?'Diogo Campos-Teixeira, da Universidade Macquarie.
Representantes do governo trabalhista de Victoria também entende que provavelmente haverá exceções nesta lei, para determinados tipos de empresas ou funções.
Imposto durante a pandemia de COVID-19, o trabalho remoto divide especialistas e, por ser tão recente, por eles ainda não é inteiramente compreendido.
Entre os estudiosos que analisam esta mudança no mercado de trabalho está o acadêmico brasileiro Diogo Campos-Teixeira, do Departamento de Administração do Universidade Macquarie, em Sydney.
Natural de São Paulo, Diogo é formado em Engenharia Industrial na Universidade Federal do Rio Grande, onde também cursou mestrado, já na área de Administração.
Ele mudou-se para Sydney na sequência da pandemia e acabou de concluir seu doutorado pesquisando justamente o trabalho remoto na Austrália. O resultado foi publicado em dois papers na Academy of Manegement Proceedings. Um é sobre os discursos dos empregados ne negociação de retorno ao trabalho presencial. O outro, sobre as respostas e impressões dos empregados sobre o que deveria ser a relação com o trabalho remoto.
Nesta conversa com a SBS em Português, Diogo Campos-Teixeira conta sobre as conclusões de seu trabalho, compara as condições de trabalho remoto no Brasil e na Austrália, e afirma que estamos em um novo momento das relações trabalhistas: depois da era chamada de A Grande Renúncia, fenômeno estudado nos Estados Unidos sobre a massa de trabalhadores que desistem de ter emprego fixo, o acadêmico brasileiro defende que, ao menos na Austrália, estamos entrando na Era da Grande Negociação, quando os trabalhadores conseguem negociar certos termos ao se tornarem empregados, do qual o trabalho remoto é um dos principais.
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