'A mais abrangente mostra de cinema brasileiro já feita na Austrália'

cinema brasileiro (1).jpg

Carmen Miranda, Zé do Caixão e Paulo Autran são alguns dos personagens em filmes da retrospectiva "Brazil! Brazil! A century of cinema!", toda quarta-feira e domingo, de graça, até 9 de novembro na NSW Art Gallery.

A mostra "Brazil! Brazil! A century of cinema!" traz dezenas de filmes que retratam o panorama da produção cinematográfica brasileira ao longo de quase um século. Conversamos com o curador Stefan Salomon, acadêmico australiano que estuda o cinema do Brasil, e Fabio Marques, coordenador do estúdio Brett Whiteley na Galeria de Arte de NSW. Eles refletem sobre a originalidade da produção e o impacto que pode ter nos espectadores australianos.


Os cinéfilos e também saudosos do Brasil que vivem em Sydney têm uma opção única de divertimento pelos próximos meses. A cidade é o palco daquela que provavelmente é a mais abrangente prospective de cinema brasileiro já feita na Oceania. A série "Brazil! Brazil! A century of cinema!" traz de graça, toda quarta-feira e domingo até 9 de novembro, um filme brasileiro na Art Gallery de Nova Gales do Sul.

A mostra teve início em 17 de setembro e contempla um vasto leque da cinegrafia brasileira de diversos momentos e gêneros, entre clássicos e alternativos.

Alguns filmes já foram apresentados. Entre os que ainda têm sessões marcadas estão:

Terra em Transe, o filme que fez o baiano Glauber Rocha ser reconhecido entre alguns dos maiores cineastas do mundo.
terra em transe
Terra em Transe (1967), de Glauber Rocha. A estética difícil é também um manifesto sobre a situação política do país daquele tempo, defende Stefan Salomon. "Não vamos mostrar as belezas do Brasil, não vamos trabalhar num estúdio. Vamos filmar lá fora, colocar a câmera contra o sol, o ambiente vai parecer desolador, destruído. Dói nossos olhos, o que também é uma bela forma de pensar a violência. Impacta quem assiste".
Esta noite encarnarei no teu cadáver, de Zé do Caixão, o cineasta de terror popular que virou cult internacional.

Os Homens que eu Tive, de Tereza Trauman, censurado pela Ditadura em 1973 e que traz pautas feministas sob pleno regime militar e domínio masculino da produção cultural.

A Rainha Diaba, de Antonio Carlos Fontoura e roteirizado por Plinio Marcos, que traz o ator Milton Gonçalves como Madame Satã em 1974.
esta-noite-encarnarei-no-teu-cadaver.jpg
Stefan Salomon, sobre o apelo da obra de Zé do Caixão (foto), diretor de filmes populares nos anos 1970 que virou cult internacional entre cinéfilos depois dos 2000: "Há algo sobre o sadismo. A violência é absolutamente horrível e inesperada, sem qualquer remorso. Eu o acho atormentador, ele me aflige."
O histórico Pixote, a Lei do Mais Fraco, de Hector Babenco, um relato profundo da delinquência juvenil na periferia brasileira.

Também o documentário musical Carmen Miranda - Banana is My Business, de Helena Solberg, que trata da carreira da Pequena Notável, o primeiro grande nome nacional a fazer sucesso em Hollywood.

A Hora da Estrela, de Suzana Amaral, baseado na obra de Clarice Lispector.

O Som Ao Redor, o filme que revelou Kleber Mendonça Filho.
Simplesmente não conhecemos (na Austrália) esta enorme variedade de filmes disponíveis. Há tantos gêneros diferentes nos quais o Brasil tem se destacado historicamente. Especialmente no cinema político, podemos aprender muito sobre o esforço dos cineastas dos anos 60 e 70. E também há um cinema contemporâneo profundo e vibrante.
Stefan Salomon, curador da Mostra "Brazil! Brazil! A century of cinema!"
Serras da Desordem, documentário do italiano Andrea Tonacci, que mostra o massacre contra a tribo Awá-Guajá na Amazônia durante os Anos de Chumbo.

O recente O Dia que te Conheci, uma comédia romântica de André Novais Oliveira.

E o Histórias que nosso cinema (não) contava, uma releitura sobre a Ditadura relatada nas pornochanchadas feitas na época.

----

Pelos filmes que citamos, alguns clássicos, outros menos conhecidos, é possível perceber que a curadoria da retrospectiva foi feita por gente muito familiarizada com a produção cinematográfica brasileira.

Mas engana-se quem pensa que os curadores vieram do Brasil.

Ruby Arrowsmith-Todd é a curadora de filmes da Galeria de Arte de Nova Gales do Sul.
ruby todd.jpeg
Ruby Arrowsmith-Todd, curadora das mostras de filmes da Galeria de Arte de Nova Gales do Sul.
O outro nome, convidado para fazer em especial a curadoria desta série de sessões, é Stefan Salomon, professor-sênior em Estudos de Mídia na Escola de Comunicação, Sociedade e Cultura da Universidade Macquaire.

Nascido em Adelaide, cresceu em Sydney é um grande conhecedor da cultura brasileira de maneria ampla, não apenas dos filmes.
Stefan Solomon Headshot.jpg
Stefan Salomon, curador da retrospectiva: "Entendemos ser necessário oferecer uma ampla variedade de gêneros de filmes brasileiros, do cinema mudo ao Cinema Novo, as chanchadas, as pornochanchadas, a produção contemporânea. Filmes que talvez mesmo brasileiros que frequentam cinema não tenham visto". Credit: Red Square Media / Morris McLennan
Durante um pós-doutorado na Universidade de Reading, na Inglaterra, Salomon trabalhou com uma acadêmica brasileira que lhe abriu as portas para o vasto e único universo cultural do Brasil.

Além de ter visitado o país algumas vezes, tanto para turismo quanto para pesquisa acadêmica, o professor da Macquarie já publicou, por exemplo, trabalhos sobre o Cinema Marginal, e em breve deve publicar um estudo sobre O Rei da Vela, um filme feito por José Celso Martinez Correa baseado na revolucionária peça do Teatro Oficina.
A violência é algo inevitável nos filmes brasileiros. A violência sexual das pornochanchadas é chocante. 'Pixote' relata a violência contra crianças. O diretor Hector Babenco dizia algo como 'a vida real é ainda mais impressionante que a ficção'.
Stefan Salomon.
Conversamos com Stefan Salomon juntamente com o brasileiro Fabio Marques, coordenador do studio Brett Whiteley na Galeria de Arte de Nova Gales do Sul. Apesar da galeria não estar diretamente envolvida na mostra, Fabio, por ser um funcionário da casa e apaixonado pela cultura brasileira, atua junto do curador australiano na promoção e divulgação das obras.
fabio marques.jpg
Fabio Marques, coordenador do estúdio Brett Whiteley na Galeria de Arte de Nova Gales do Sul: "Existe um grande 'gap' de relações culturais entre o Brasil e a Austrália, que ainda não teve a percepção das relações que podem existir entre os dois países. Essa temporada na Art Gallery de NSW é um passo".
Nesta conversa com a SBS em Português, Stefan Salomon e Fabio Marques falam sobre a proposta da retrospectiva do cinema do Brasil. Eles também repassam como a mostra chegou aos filmes que estão em cartaz, refletem sobre a originalidade da produção e o impacto que ela tem no público australiano.

Se você gosta de cinema, aumente e som e prepare-se para uma deliciosa conversa.

Para ouvir, clique no botão 'play' desta página.

Ouça os nossos podcasts. Escute o programa ao vivo da SBS em Português às quartas-feiras e domingos ao meio-dia. Assine a 'SBS Portuguese' no Spotify, Apple Podcasts, iHeart Podcasts, PocketCasts ou na sua plataforma de áudio favorita.

Share
Follow SBS Portuguese

Download our apps
SBS Audio
SBS On Demand

Listen to our podcasts
Independent news and stories connecting you to life in Australia and Portuguese-speaking Australians.
What was it like to be diagnosed with cancer and undergo treatment during the COVID-19 pandemic?
Get the latest with our exclusive in-language podcasts on your favourite podcast apps.

Watch on SBS
Portuguese News

Portuguese News

Watch in onDemand
'A mais abrangente mostra de cinema brasileiro já feita na Austrália' | SBS Portuguese