Um terramoto é sempre algo de brusco, imprevisto.
Assim é o terramoto político que tem por efeito a demissão do primeiro-ministro António Costa, há 8 anos na chefia do governo de Portugal e reeleito há menos de dois anos com ampla maioria absouta.
O terramoto começou às 8 da manhã desta terça-feira, com a policia a fazer buscas, por ordem de um juiz, na sede do governo.
O alvo não era o primeiro-ministro mas o seu chefe de gabinete.
Ao mesmo tempo, buscas no gabinete e na residência do ministro da Energia e também na residência de um colaborador habitual do primeiro-ministro.
Não se sabia qual era a razão destas buscas, de imediato notícia de topo nos diferentes media portugueses.
O primeiro-ministro, ao saber que pessoas próximas estavam a ser investigadas, pediu um encontro urgente com o Presidente da República. Foi imediato. Pelas 9 e meia da manhã, o primeiro-ministro Costa reunia-se com o residente Marcelo.

O presidente Marcelo Rebelo de Sousa chamou o Conselho de Estado nos próximos passos para definir se haverá eleições antecipadas ou não. Credit: Global Media Group/Sipa USA
Hora e meia depois, um comunicado da Procuradoria da República informava sobre uma acusação vaga: um suspeito num processo sob investigação judicial tinha referido o nome do primeiro-ministro como tendo intervindo para desbloquear demoras no processo de exploração do lítio (um tema que envolve um consórcio com capitais australianos) e do hidrogéneo verde. A Procuradoria acrescentava que por ter sido referido o nome do primeiro-aberto este ficava sob investigação em processo crime.
Costa ficou indignado. Minutos depois voltava ao palácio presidencial às duas da tarde, e em conferência de imprensa anunciou ao país o que tinha comunicado ao presidente: demissão.
Costa garantiu que tem a consciência limpa, mas em nome da dignidade não pode continuar como primeiro-ministro.
A demissão do PM implica provavelmente eleições antecipadas, como está a pedir toda a direita, e apesar de o PS ter ampla maioria absoluta parlamentar.
Costa está a ser elogiado até pelos adversários, pela dignidade que mostrou ao demitir-se logo que soube que estava sob investigação judicial.
Alegadamente por ter ajudado a desbloquear procedimentos.
Há quem alegue que desbloquear é a função do PM.
Há mesmo quem questione se Portugal não está a transformar-se em república de juízes, em que um só juiz pode levar à queda de um governo a partir de uma acusação vaga.
O comunicado judicial diz:
“Estão a ser investigados factos relacionados com as concessões de exploração de lítio nas minas do Romano (Montalegre) e do Barroso (Boticas); um projecto de central de produção de energia a partir de hidrogénio em Sines, apresentado por consórcio que se candidatou ao estatuto de Projectos Importantes de Interesse Comum Europeu; o projecto de construção de data center desenvolvido na Zona Industrial e Logística de Sines pela sociedade Start Campus”,
Não é concretizada qualquer acusação neste processo que leva António Costa a retirar-se da vida política, apesar de com maioria absoluta e alta cotação.
A Justiça fica obrigada a justificar-se.
O PS vai ter de eleger novo líder, assunto para os próximos dias. Poderá ser uma mulher, uma das atuais ministras no topo do governo, Também o candidato esquerdista Pedro Nuno Santos ou o centrista Fernando Medina.
Depois, algures no começo do ano que vem, provavelmente, eleições antecipadas, com resultado incrto, a não ser a certeza de parlamento muito fragmentado.
Subitamente, Portugal em séria crise política.
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