'Sou campeão de NSW de Sprint na Areia, mas agora quero medalha nos Nacionais,' diz Salvador Ribeiro

Salvador Ribeiro é pai, fisioterapeuta, nadador-salvador, bombeiro e surfista. Mas a grande surpresa, até para ele, foi ter conseguido sagrar-se o campeão estadual de Sprint na Areia. "Agora, vou atirar-me a uma medalha nos Nacionais", avisa o sprinter mais ´tuga´ das praias australianas.

Salvador Ribeiro na "sua praia" vivendo o sonho antigo de ser nadador-salvador na Austrália Credit: Sourced: Salvador Ribeiro

Key Points

• Salvador é o campeão estadual de NSW de Sprint na Areia.
• Nos últimos dois anos, alcançou ainda um quarto e um sexto lugar nos Nacionais australianos de Sprint na Areia.
• É português e está na Austrália há oito anos. Vive em Wollongong há ano e meio.
• Com apenas 33 anos, é fisioterapeuta, jogador de rugby, nadador-salvador e bombeiro.
• Já passou por quase todos os vistos possíveis de permanência e trabalho na Austrália, e agora que está prestes a obter a residência permanente, ainda está a ponderar se quer correr atrás da cidadania australina já que gosta de "ser português até no passaporte".

Há oito anos atrás veio visitar o irmão que estava a estudar em Sydney. Gostou disto de tal maneira que largou tudo e ficou cá até hoje.

Salvador Ribeiro é um exemplo inspirador para todos os que, um dia, deixaram o seu país para viverem a grande aventura australiana.

Com 33 anos, ele tem feito em Sydney tudo o que sempre quis fazer na vida, mas que em Portugal nunca conseguiu por falta de tempo e oportunidade.

Ser pai, surfar, ser nadador-salvador, bombeiro, fisioterapeuta... e ainda ter tempo para ganhar medalhas em competições australianas não é para todos.

Desde pequenino que, muito por influência dos meus pais que sempre ajudaram toda a gente ao seu redor, tenho esta chama em mim de me envolver com a comunidade e ser útil de alguma forma

Diz Salvador

Com um apurado espírito de entre-ajuda, atenção ao próximo e responsabilidade perante a comunidade, Salvador diz que se tornou no homem que é hoje graças às experiências da sua vida:

Fui aluno do Colégio Militar, joguei rugby toda a minha vida, fui forcado em Santarém, cresci a passar as férias escolares entre a praia (a surfar com o meu irmão) e a Covilhã onde passava tempo com os meus avós... Toda estas vivências despertaram em mim a vontade de experimentar mais e ajudar o outro.

Reforça Salvador, lembrando que na praia sentiu sempre a vontade de ser nadador-salvador, e na Covilhã ajudava os bombeiros no combate aos incêndios na zona, no pouco que o deixavam fazer porque ainda era miúdo.

Por ser um ´cuidador´natural, escolheu ser fisioterapeuta - uma profissão que o faz feliz.

Salvador Ribeiro exercendo a sua profissão de fisioterapeuta, em Wollongong. Credit: Sourced: Salvador Ribeiro

E na Austrália, não só conseguiu dar continuidade à profissão que adora, como ainda está a concretizar um outro sonho de infância:

Jogar rugby, na terceira liga, na Austrália é um sonho tornado realidade. Jogo rugby há muitos anos, mas aqui o campeonato é um nível acima

Elogiando as equipas de rugby australianas, Salvador realça o facto dos jogadores aqui serem "geneticamente dotados, grandes e fortes".

Mas, acima de tudo, o que deixou o Salvador surpreso foi o nível de competência atlética dos australianos de uma forma geral:

Salvador vive também a grande aventura de dar continuidade à sua carreira de jogador de rugby na Austrália. Credit: Sourced: Salvador Ribeiro

Aqui, às 5 da manhã já estão todos a nadar, a surfar, a correr, a saltar. Depois, claro, isso reflecte-se em campo - mesmo os jogadores menos esforçados são naturalmente fortíssimos fisicamente. As crianças australianas, de uma forma geral, são potenciais atletas.

Diz Salvador que acrescenta que, não obstante o facto dos portugueses serem menos dotados fisicamente, são em contrapartida "muito melhores na estratégia em campo".

Salvador começou por viver em Manly, mais próximo de Sydney CBD. E gostou muito.

Mas, depois de se mudar para as praias de Wollongong, há um ano e meio atrás, o nadador-salvador diz que está ainda mais feliz:

Salvador em plena competição, onde foi o vencedor estadual de NSW na modalidade de Sprint na Areia Credit: Sourced: Salvador Ribeiro

Noto que a vida nas praias de Wollongong é muito mais calma, e conseguimos ter uma paisagem linda de praia e montanha e, ao mesmo tempo, estarmos perto da cidade.

Garante o nadador-salvador português

Foi nesta zona de Nova Gales do Sul que se entregou de corpo e alma aos seus dois voluntariados como nadador-salvador e bombeiro.

Estando ainda no início da sua formação como bombeiro, não teve ainda muita oportunidade de ajudar a comunidade:

Ainda não apaguei o meu primeiro fogo. Mas já ajudei durante as cheias. Sou ainda um bombeiro em formação.

Explica Salvador que ainda só está na fase do treino básico como bombeiro.

Em contrapartida, como nadador-salvador está imparável, não só no seu contributo na patrulha das praias onde já assume um papel de líder da sua equipa, como também na participação nas competições do seu Life Saving Club:

Como gosto muito de surfar, tentei competir na modalidade que envolve pranchas. Mas não me saí lá muito bem. Surpreendentemente, no Sprint na Areia, onde eu sempre imaginei que os australianos seriam imbatíveis, acabei por ser o campeão de NSW.

Diz Salvador, orgulhoso do seu feito como o único português na competição.

Tentando a sua sorte nos Nacionais australianos de Sprint na Areia, Salvador alcançou o fabuloso quarto lugar, embora considere que podia ter ganho uma medalha não fosse o azar de se ter lesionado.

Claro que no meio de tanta atividade, Salvador tem pouco tempo livre para descansar e estar com a família.

Mas, segundo ele, "com jeitinho e muita negociação com a Jennifer (sua companheira), tudo se consegue. Gosto de estar sempre ocupado".

Noah, a sua filhota de apenas um ano e meio, é que já acompanha o pai para todo o lado, principalmente quando a mãe precisa de "espaço para as coisas dela":

A Noah vem comigo para o rugby muitas vezes. E é giro porque às vezes é o treinador que a passeia no carrinho dela de um lado para o outro, enquanto eu treino. A Noah é sempre bem-vinda e todos na equipa são muito queridos com ela.

Agradece Salvador que ainda acrescenta que Noah também já o acompanhou na praia, nos seus dias de patrulha como nadador-salvador.

Apesar de Salvador estar completamente integrado na cultura e comunidade Aussies, e contente com a sua vida na Austrália, nem tudo tem sido fácil.

Diz ele que adora este país mas que sente muita falta da família e dos amigos em Portugal:

Embora goste muito de viver na Austrália, há coisas que a Austrália não consegue dar-me: a minha família e amigos de sempre. Sinto muita falta deles e quero muito que a minha filha os conheça e se identifique com eles... quero que ela se sinta portuguesa, até mais do que australiana, se possível.

Confessa Salvador que, acima de tudo, é um pai português "à moda antiga"

Diz Salvador que faz "o dobro do esforço para ensinar a língua e a cultura portuguesas à Noah".

Salvador com a sua companheira, Jennifer (australiana), e a filhota de ambos, Noah, a qual acompanha o pai para os treinos de rugby e para os dias de voluntariado na praia sempre que é possível.

"Os livros que leio à minha filha são em português, tal como as músicas que lhe canto. E de vez em quando cozinho um prato português para que ela se habitue", conta Salvador que sofre com o facto da filha não ter uma vivência tão próxima com os avós portugueses quanto tem com os avós australianos.

Quero que a minha filha olhe para os avós de Portugal como olha para os da Austrália. E por isso, pela Noah e a sua relação com os avós, até pondero a hipótese de, no futuro próximo, passar dois anos aqui, dois anos lá, alternadamente.

Partilha Salvador, a pensar na vida e no que quer para a filha.

Aos seus vistos de permanência e trabalho na Austrália já perdeu a conta: "Já tive todo o tipo de visto possível, de estudante a work&holiday, passando pelo Partner Visa... Em dezembro, espero ter já a residência permanente".

Contudo, ao contrário da maioria dos imigrantes na Austrália, Salvador não corre atrás da cidadania australiana, por uma única razão:

Sou orgulhoso demais e daqueles que será português até morrer, até no passaporte.

Diz Salvador que, por enquanto, só quer a residência permanente. Depois... "logo se vê".

Para ouvir a entrevista com Salvador Ribeiro na íntegra, incluindo muito mais detalhes do seu percurso como emigrante português e das suas aventuras pessoais, profissionais e como voluntário e campeão desportivo, clique no aúdio incluído em cima.

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