Segundo o porta-voz do Vaticano, Matteo Bruni, as primeiras denúncias contra o timorense chegaram à Congregação para a Doutrina da Fé em 2019.
Actualmente com 73 anos, Ximenes Belo passou as últimas décadas em Portugal, praticamente desde que, em 2002, anunciou repentinamente o seu pedido de resignação, alegando padecer de um cansaço “físico e psicológico” que requeria uma “longa recuperação”.
Antes de ser nomeado bispo de Díli, Ximenes Belo era um sacerdote salesiano.
Quando saiu de Timor-Leste, deixando o cargo vazio, Belo mudou-se para as instalações da Província Portuguesa da Sociedade Salesiana, tendo passado por vários locais em Portugal.
Há 3 anos, após investigações preliminares sobre denúncias chegadas a Roma, o Vaticano impôs a Ximenes Belo sanções, entre as quais se incluem limitações nas viagens e no exercício do ministério e a proibição de ter contacto voluntário com menores ou voltar a Timor-Leste.
Em Novembro do ano passado estas sanções foram “modificadas e reforçadas”, tendo de ambas as vezes Ximenes Belo aceitado formalmente as medidas, segundo informou o porta-voz do Vaticano.
Segundo o jornal holandês que, na quarta-feira, trouxe a público as acusações de abuso sexual alegadamente praticados por Ximenes Belo, a decisão coincidiu com o início das investigações visando apurar a veracidade dos boatos que corriam desde há muito em Timor-Leste.
Esta quinta-feira, a congregação religiosa salesiana, que detém seis colégios em Portugal Continental, reagiu com “tristeza e perplexidade” às notícias que referem vários casos de abuso sexual.
“A Província Portuguesa, a pedido dos seus superiores hierárquicos, recebeu-o como hóspede durante os últimos anos. Desde que se encontra em Portugal não tem tido quaisquer cargos ou responsabilidades educativas ou pastorais ao serviço da nossa Congregação”, explicam os salesianos num curto comunicado, no qual salientam que, desde que assumiu funções na diocese de Díli, em Timor-Leste, primeiro como administrador apostólico e depois como bispo, Ximenes Belo “deixou de estar dependente daquela congregação religiosa”.
Ainda assim, os salesianos foram chamados a acolhê-lo.
“O pedido de hospitalidade foi por nós aceite com toda a naturalidade por se tratar de uma pessoa conhecida e estimada por todos”.
Já quanto às notícias de que Ximenes Belo abusou sexualmente de dezenas de menores, os salesianos portugueses nada comentam, alegando não disporem de “conhecimentos” e remetendo os necessários esclarecimentos “para quem tem competência e conhecimento”.
O caso em que o anterior bispo de Dili aparece envolvido ganha destaque no momento em que em Portugal se intensifica a investigação sobre abusos sexuais praticados por pessoas da igreja.
São investigados suspeitos da prática de crimes e também superiores hierárquico que terão optado pelo encobrimento.
Neste fim de semana o Ministério Público (MP) confirmou estar a investigar o bispo D. José Ornelas, presidente da Conferência Episcopal Portuguesa, por alegado encobrimento de abusos sexuais, praticados em 2011 sobre crianças num orfanato em Moçambique quando José Ornelas era o responsável máximo pela Congregação dos Sacerdotes do Sagrado Coração de Jesus.
Mas a Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) de imediato informou que D. José Ornelas, "deu indicações" em 2011 para que suspeitas de abuso sobre crianças num orfanato em Moçambique fossem investigadas, afirmando o comunicado episcopal que não foram encontradas evidências de "possíveis abusos".
Seja como for, neste caso, referido a um orfanato em Moçambique, tanto as vitimas como os alegados agressores são estrangeiros.
Em Portugal, o que está em investigação neste momento é o que terá ocorrido em Portugal:
quantos crimes de abuso sexual de menores foram cometidos no seio da Igreja Católica portuguesa desde 1950 até à atualidade? Esta é uma das perguntas a que a comissão de investigação presidida pelo psiquiatra Pedro Strecht vai procurar responder até ao final do ano.
O caso que envolve Ximenes Belo, por ser referido como ocorrido em Timor, está fora da jurisdição portuguesa.
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