Nani tem uma carreira internacional ao mais alto nível:
- Começou no Real Sport Clube de Queluz, Amadora
- Depois de entrar para Sporting, passou pelo Manchester United, Valencia, Lazio, Venezia e outros... até que, agora, aos 36 anos, está na Australia, ao serviço do Melbourne Victory
- As vitórias são mais do que muitas - um campeonato nacional português pelo Sporting, uma Premier League, um campeonato da Liga Inglesa, um Mundial de clubes e três títulos do Community Shield
- Nani foi ainda galardoado com o prémio de Comendador da ordem de mérito
- Há anos que integra a seleção portuguesa, sendo que a primeira vez que vestiu a camisola das ´Quinas´, fê-lo em substituição de Cristiano Ronaldo, nos minutos finais do jogo.
Nani é um dos melhores jogadores portugueses e uma grande referência do futebol europeu.
Deixando o futebol “mais técnico e vistoso do Mundo” de Portugal, Inglaterra e Itália e até dos Estados Unidos para trás, Nani veste agora as cores do Melbourne Victory, aqui na Austrália.
Já joguei ontem pelo Melbourne Victory e, sempre que toquei na bola, pude sentir claramente que os adeptos estão muito entusiasmados, mas também têm expectativas altas em relação a mim, o que é muito normal.Começa por dizer Nani.
"É bom sentir essa responsabilidade porque faz com que estejamos sempre a dar o nosso melhor. Vim para aqui para dar o melhor de mim, como sempre", acrescenta o jogador à SBS em Português.
Sem ainda ter saído para explorar a cidade de Melbourne, Nani diz que ainda não teve tempo nem oportunidade de ver muitos portugueses.
Apesar disso, já sentiu o apoio da comunidade portuguesa em campo:
Ontem, vi uma bandeira portuguesa na bancada e fiquei muito contente. Não pude cumprimentar porque as regras em campo não o permitem. Mas hei-de ver muitos portugueses por aí, tenho a certeza.Referiu o novo avançado do Melbourne Victory
Do seu novo clube e, em particular, dos seus novos colegas de equipa só tem a dizer bem:
"Os meus companheiros receberam-me muito bem. Tem sido tudo muito fácil porque a equipa é tranquila, entrosei-me muito bem, já interagimos e temos brincadeiras entre nós. É um grupo com muito boa onda".
Nani valoriza e apoia o futebol feminino
Uma vez que Nani teve oportunidade de ver bom futebol feminino nos Estados Unidos, e que terá com certeza a curiosidade de acompanhar a modalidade na Austrália, quisemos saber a sua opinião em relação à evolução das mulheres no futebol:
Pouco a pouco, as mulheres estão a ganhar o seu espaço no futebol. E já há mulheres excepcionais em campo.Diz Nani, apoiando o futebol feminino
Contudo, o avançado português admite que a igualdade entre homens e mulheres em campo ainda está longe de ser alcançada, principalmente no que toca aos salários que são muito mais altos para os homens do que para as mulheres:
"Até os salários serem iguais entre homens e mulheres - como eu acho que as mulheres merecem - falta haver mais clubes, mais equipas, mais mulheres a jogarem. Mas, se antes este era um desporto unicamente associado aos homens, agora isso está a mudar. O futebol feminino está no bom caminho".
Nani teve uma infância dura, mas, apesar dos pesares, foi sempre feliz
Nani nasceu há 35 anos, na Amadora, como Luís Carlos Almeida da Cunha – nome que lhe foi atribuído pelos seus pais, ambos cabo-verdianos imigrantes em Portugal.
Eram outros tempos, mas a vida de imigrante também não era ´pêra doce´, e Nani viu-se entregue a si mesmo e aos seus irmãos muito cedo na sua vida.

Nani corre com a bola durante um jogo de futebol de treino com Cabo Verde, em 2010, na Covilhã, centro de Portugal. Source: AP / AAP Image/Armando Franca/AP
"A minha infância foi bonita. Nasci e cresci na Amadora, na Linha de Sintra. Foi aí que aprendi praticamente tudo com os meus irmãos e amigos. Éramos sete em casa e quando eu tinha seis anos, o meu pai foi para Cabo Verde para só regressar quando eu já tinha 18", diz Nani.
Sem o pai em casa, e uma família numerosa para alimentar, educar e sustentar, nada foi fácil para a família, tal como explica o jogador avançado do Melbourne Victory:
Durante esse período foi tudo mais complicado e nem sempre tínhamos comida na mesa. Tínhamos que nos desenrascar na rua, a pedir, sem comer durante o dia todo, etc, etc...Recorda o jogador.
Mas como força mental é para Nani o equivalente à força das suas pernas a avançarem pelo campo do adversário no relvado, o futebolista recorda esses tempos com uma alegria na voz:
"Mesmo com todas as dificuldades, éramos uma família de crianças felizes, sempre a jogar à bola, a brincar na rua e a fazer traquinices. E quem acabou por assumir o papel de meu pai foi o meu irmão com quem, de resto, aprendi a jogar à bola".

Nani a celebrar um bom momento ao serviço dos norte-americanos do Orlando City. Source: Getty / Getty Images
Em Manchester viveu com o seu grande amigo e companheiro de relvado, o Cristiano Ronaldo, que além de acolher Nani também deu guarida ao jogador brasileiro Anderson na mesma época.
Crescemos juntos no futebol e acabei por viver uma temporada na casa do Cristiano, em Inglaterra. Ele já estava um passo à frente e a casa dele já tinha tudo: campo de ténis, piscina interior, mesa de ping pong, snooker, ele já tinha tudo. Era uma loucura.Refere Nani.
Mais do que agradecido pela generosidade de Ronaldo, Nani fala dessa temporada divertida como uma fase vivida entre amigos que estavam a crescer juntos como indivíduos e como jogadores de futebol profissionais:
"Nós os três experimentávamos todos os jogos disponíveis na casa do Cristiano, sempre supercompetitivos em tudo, todos os dias. Nenhum de nós gostava de perder, e o Cristiano menos ainda. E a partir do momento em que aprendíamos um jogo novo e passávamos a dominar a ´coisa´ já não éramos ‘amigos’."
Diz Nani, entre gargalhadas, que mostram bem o sentimento de profunda amizade que tem pelo Ronaldo, que define da seguinte maneira:
O Cristiano é um palhaço. Muito brincalhão com as pessoas que gosta. Adora rir, gozar, competir e brincar. E é muito generoso. Mais tarde, quando eu também já tinha a minha casa, era ele quem vinha almoçar e jantar comigo e com a minha mãe.Diz o jogador
Uma coisa é certa, de todos os jogadores do mundo, Nani elege o amigo como o “melhor de todos”:
"Depois de trabalhar com o Ronaldo diariamente, não tenho quaisquer dúvidas de que ele é o melhor, o que bateu todos os recordes. Não há nenhum jogador de futebol que chegue aos pés dele".
Mas Nani tem outros ídolos, os quais seguia e copiava quando ainda era adolescente:
Em miúdo, eu seguia o Figo e o Ronaldinho que são jogadores que eu sempre gostei e valorizei muito.Reforça o jogador a quem muitos compararam ao Figo, por ambos usarem a camisola número 7.
E, finalmente, quando perguntámos se Nani tem saudades de alguém, de alguma coisa ou de algum lugar ou país, a resposta é desconcertante:
Já não tenho saudades. O mundo tornou-se pequeno para mim. Já viajei por todo o lado. Nada é longe. Veja: estou na Austrália e estamos, agora mesmo, a falar português.Revela Nani que diz ser "homem do mundo"
Não perca a entrevista completa do Nani à SBS em Português - este artigo é só uma pequena amostra do muito que poderá saber sobre a vida e história do nosso avançado do Melbourne Victory, no áudio que encontrará na abertura deste artigo.
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