´A astronomia aconteceu, tipo doença fulminante´: Elisabete da Cunha, WA Portuguese Citizen of the Year 2022

300724053_492134086087520_1558641989014262475_n.jpg

A astrónoma e astrofísica portuguesa, Elisabete da Cunha, com o seu companheiro, o australiano e também astrónomo, Brent Groves, e a filha de ambos, de dois anos, Penelope. Foto tirada em Portugal, em Abril deste ano, durante uma visita à sua família no norte do país.

Elisabete da Cunha é luso-australiana, filha de emigrantes portugueses, uma orgulhosa ´mulher do norte´ que ficou agarrada à astronomia quando aos 13 anos começou a observar o céu nocturno e a devorar todos os livros da biblioteca da escola sobre o tema. A partir daí, o céu foi literalmente o limite para Elisabete. Hoje, com 39 anos, é uma das mais reconhecidas astrónomas portuguesas e uma das poucas pessoas do mundo a trabalhar nos maiores telescópios do planeta, entre eles o incrível James Webb Telescope. Por tudo isto e muito mais, o prémio WA Portuguese Citizen of the Year 2022, na categoria profissional, já é dela.


A Dra. Elisabete da Cunha é luso-australiana, astrofísica, astrónoma e investigadora sénior da University of Western Australia.

Nasceu em Paris, filha de pais emigrantes portugueses e cresceu em Viana do Castelo, Portugal, bem lá no norte, na vila de Barroselas, para onde os seus pais a levaram, aos 7 anos de idade, juntamente com o seu irmão gémeo, Joel.
Não há lugar no mundo que substitua a nossa terra. E a minha terra é Portugal.
Diz Elisabete da Cunha, que cresceu no norte de Portugal, numa vila pequenina, mas que ela considera `maior´ do que qualquer outro lugar no mundo por onde já tenha passado... e foram muitos.
Depois de finalizar o seu doutoramento, Elisabete continuou ligada à academia como investigadora no âmbito de pós-doutoramento, na Grécia, na Alemanha e, finalmente, na Austrália onde chegou em 2014.
Nem sempre é fácil ser astrónoma e astrofísica num universo maioritariamente ocupado por homens. E quanto mais chegamos ao topo de carreira mais sentimos que são os homens que ocupam os lugares de liderança. Mas temos que ser teimosas e nunca desistir.
Confessa a cientista portuguesa a quem todos os seus colegas, dos mais novos aos mais velhos, se habituaram a respeitar e a trabalhar "de igual para igual".
Por cá, morou em Melbourne e Canberra e, agora, está em Perth, já desde 2019.
299611344_381838340795452_2966240834022956812_n.jpg
Elisabete da Cunha a ´abraçar´mais um momento especial da sua vida quando, em 2011, no deserto do Atacama no Chile, visitou o telescopio ALMA - o seu telescópio preferido, o qual fica a 5000 metros de altitude.
E foi precisamente no estado da Austrália Ocidental que a comunidade portuguesa mostrou a Elisabete todo o orgulho que sente pela jovem cientista atribuindo-lhe o prestigiante prémio WA Portuguese Citizen of the Year 2022.
Ganhar o prémio WA Portuguese Citizen of the Year 2022, na categoria profissional, foi uma surpresa e uma honra incríveis para mim. Este prémio representa, sobretudo, a forma incrível como fui bem recebida pela comunidade portuguesa aqui, quando ainda por cima eu cheguei a Perth há muito pouco tempo.
Confessa, ainda emocionada, Elisabete da Cunha
299050719_534603025134359_5650443056913313048_n.jpg
Elisabete da Cunha num evento público onde apresentou as suas primeiras imagens do telescópio JWST, em Julho deste ano, em Perth.
Enquanto investigadora científica, Elisabete procura explorar e entender como é que galáxias como a nossa Via Láctea se formaram e como é que evoluíram no Universo nos últimos 13 bilhões de anos. No mínimo, uma profissão que não é para todos.
Posso dizer que defini o meu futuro profissional aos 13 anos quando comecei a observar o céu nocturno. Depois, no final da escola secundária, foi a escola que me ofereceu o meu primeiro telescópio, no âmbito de um prémio de quadro de honra que me foi atribuído. Li todos os livros da biblioteca que falavam de astronomia e nunca mais parei... até hoje.
Explica Elisabete da Cunha, que ainda acrescentou que "a astronomia ainda veio a provar ser uma profissão melhor" do que imaginava em adolescente.
Com uma carreira cheia de sucessos, aventura, muitas viagens e descobertas onde o céu é literalmente o limite, Elisabete é uma daquelas pessoas que não só “vive no mundo das estrelas”, pelos melhores motivos, claro, mas também é uma mãe apaixonada da sua filha Penelope e esposa devotada ao seu companheiro, o australiano e também astrónomo, Brent Groves.

Acima de tudo, Elisabete é uma mulher portuguesa com ´H´ grande que se orgulha de ser, acima de tudo, uma ´mulher do norte´.
Tenho muito orgulho de ser portuguesa e faço questão que a minha filha também se sinta portuguesa, que fale a nossa língua, que viva a nossa cultura e que quando vai a Portugal se sinta em casa com a sua família do lado da mãe. Por isso é que já a levei ao consulado-geral para tratar da sua dupla nacionalidade.
Diz a cientista que embora esteja a viver e a educar a sua filha em Perth, Austrália, faz um esforço grande para transmitir à sua filha o seu legado cultural.
Como astrónoma a viver e a trabalhar na Austrália, Elisabete tem plena consciência da responsabilidade que observar o céu nocturno em terras sagradas das Primeiras Nações acarreta.
Infelizmente, não podemos anular os erros do passado da colonização europeia. Mas podemos, e devemos, aprender mais sobre os povos Indígenas, respeitar o espaço e a cultura deles, explorar formas de colaborar com eles e integrá-los em projectos virados para a ciência e o futuro. O que não podemos é chegar aqui e tomar conta disto tudo como se não houvesse cá ninguém antes de nós.
Refere Elisabete, acerca da tensão antiga entre Indígenas e cientistas ocidentais que existe, inclusivamente, em muitos dos telescópios construídos em terras Indígenas sagradas onde a astrónoma trabalha, nas zonas mais remotas pelo mundo fora.
301764224_539612177935162_3953733960585269079_n.jpg
A astrónoma e astrofísica portuguesa no estado de NSW, desta vez no Observatorio de Siding Springs.
Não perca a entrevista completa da SBS em Português a Elisabete da Cunha. Uma conversa animada onde, entre muitas gargalhadas e um sotaque português nortenho que dá gosto ouvir, a cientista portuguesa fala da sua paixão pela astrofísica e astronomia e como tudo começou para ela nesta área; onde expressa as suas opiniões acerca da relação tensa entre os cientistas ocidentais da sua área do conhecimento e os povos Indígenas pelo mundo fora; onde se abre acerca daquela que considera ser a maior vitória da sua vida, que foi ultrapassar os seus problemas de fertilidade e conseguir ser mãe da sua linda Penelope, há dois anos atrás; onde explica como é ser mulher cientista num mundo maioritariamente liderado por homens; e muito, muito, muito mais.

Para ouvir a entrevista com Elisabete da Cunha, clique no botão PLAY junto ao título deste artigo.

Siga a SBS em Português no Facebook, Twitter e Instagram e ouça os nossos podcasts. Escute a SBS em Português ao vivo às quartas e domingos ao meio-dia ou na hora que quiser na nossa página.

Share
Follow SBS Portuguese

Download our apps
SBS Audio
SBS On Demand

Listen to our podcasts
Independent news and stories connecting you to life in Australia and Portuguese-speaking Australians.
What was it like to be diagnosed with cancer and undergo treatment during the COVID-19 pandemic?
Get the latest with our exclusive in-language podcasts on your favourite podcast apps.

Watch on SBS
Portuguese News

Portuguese News

Watch in onDemand