Grupo hoteleiro português Vila Galé desiste de resort na Bahia para evitar conflito com tribo indígena

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Hotel Vila Gale em Beja, Portugal Source: Getty Images

Vila Galé, grupo hoteleiro principal português, cancelou o projecto de construir em 20 hectares um resort turístico numa área reclamada por uma tribo indígena brasileira no sul do estado brasileiro da Bahia.


A área em causa, que corresponde a 470 quilómetros quadrados, é reclamada pelo povo Tupinambá de Olivença, que luta pela demarcação oficial daquelas terras há pelo menos 15 anos, e cuja primeira fase do processo foi concluída em 2009.

O Vila Galé garante que o projecto nasceu em 2017 fruto de um convite do Governo da Bahia e da Prefeitura de Una para a realização deste investimento, que teria como objectivo “ajudar ao desenvolvimento da região”. Todos os estudos feitos ao projecto foram aprovados, garante o grupo.

O governo da Bahia e a Prefeitura Municipal de Una assinaram com o Grupo Vila Galé um protocolo de intenções com um investimento superior a 200 milhões de reais (cerca de 45 milhões de euros), que geraria, de acordo com o Embratur, mais de 500 postos de trabalho directos e 1500 indirectos.

O Grupo Vila Galé argumenta em comunicado: “No local e num raio de muitos quilómetros, não havia nem há qualquer tipo de ocupação/utilização, nem sinais de qualquer atividade extrativista por parte de quem quer que seja. Não existe qualquer reserva indígena decretada para esta área, nem previsão de a vir a ser. Passaram três mandatos governamentais anteriores, com vários ministros da Justiça e nenhum deles aprovou a demarcação das terras indígenas.”

“Certamente porque não encontraram fundamento legal para o efeito de decretar uma gigantesca área de reserva de 47 mil hectares”, justifica o grupo. Reconhecendo tratar-se de “um tema delicado que suscita estados emocionais”, o Vila Galé revela abandonará o projeto, por não querer que um dos seus hotéis nasça “com a iminência de um ‘clima de guerra’”, que classifica como “sem fundamento”.

A intenção do grupo hoteleiro português foi originalmente revelada pelo site de jornalismo de investigação The Intercept no final de Outubro. O Instituto Brasileiro de Turismo (Embratur, dependente do Ministério do Turismo) comunicou à Fundação Nacional do Índio (Funai)  que a rede hoteleira solicitava o encerramento do processo de demarcação de terras indígenas localizadas especialmente nos municípios de Una e Ilhéus, estado da Bahia.

Segundo escreve o The Intercept, a área objecto de processo de demarcação é o lar de 4.600 nativos, além de pescadores artesanais, e a sua história remontará a 1680.

“Entre outros aspectos, [os Tupinambá de Olivença] destacam-se pela organização em pequenos grupos familiares e certos gostos alimentares, como a preferência pela ‘giroba’, uma bebida fermentada produzida por eles. Ainda que se considerem muitas vezes ‘índios civilizados’ isso nunca significou um abandono de sua condição indígena”, diz o site Povos Indígenas no Brasil, pertencente à organização não-governamental (ONG) Instituto Socioambiental (ISA).

O Vila Galé é um dos principais grupos hoteleiros portugueses e é, actualmente, responsável pela gestão de 34 unidades hoteleiras: 25 em Portugal e nove no Brasil.

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