'Hoje o Rio está vivendo em suspenso': jornalista relata clima de medo após operação policial

Brazil Gang Raid

Moradores da favela da Penha protestam em frente ao Palácio Guanabara no dia seguinte da operação policial que resultou em 120 mortes de supostos traficantes da facção Comando Vermelho. Source: AP / Silvia Izquierdo/AP

A operação policial realizada contra o tráfico de drogas nos complexos da Penha e do Alemão, zona norte da cidade do Rio de Janeiro, foi marcada por violência, relatos de execuções, torturas e classificadas como carnificina por moradores e parentes dos mortos. Até agora são 120 mortos. A jornalista e moradora do Rio de Janeiro, Rosa Bittencourt falou à SBS em Português.


Nos últimos dias, o Rio de Janeiro foi cenário de uma grande operação policial que reacendeu o debate sobre segurança pública no Brasil.

A ação, considerada uma das maiores já realizadas no estado, resultou em 120 mortes, incluindo pessoas que não estavam envolvidas no confronto.

Com 2.500 policiais mobilizados, a operação foi conduzida sem comunicação prévia com o governo federal, o que levantou questionamentos sobre a coordenação e a responsabilidade institucional das ações policiais.

Um dia após a operação questões sobre o uso de câmeras corporais, comunicação com o governo federal, e a identidade dos mortos tomam o centro do debate sobre violência policial.

Segundo a jornalista e moradora do Bairro Laranjeiras do Rio de Janeiro, Rosa Bittencourt, a cidade está em choque.
Brazil Gang Raid
Um homem observa os corpos de pessoas mortas durante a operação policial contra a facção Comando Vermelho na favela Complexo da Penha, no Rio de Janeiro. Source: AP / Silvia Izquierdo/AP
"Hoje a gente tem uma cidade que está respirando em suspenso, que está vivendo em suspenso. Por exemplo, eu vou sair na rua, vão levar meu celular, ou vão levar o carro do vizinho. A partir de hoje, de amanhã, depois de amanhã, não tem mais violência na Zona Sul ou em qualquer bairro do Rio? Claro que a violência vai continuar. Quando eles focam nos traficantes, não vai mais ter consumo de drogas na Zona Sul ou em qualquer outro lugar? Claro que vai ter, " diz.

Segundo relatos da imprensa local, os líderes do Comando Vermelho teriam fugido, relata a jornalista. "Porque os grandes, que eles queriam atingir, esses já fugiram. Ninguém dos grandes que eles queriam prender foram presos. E quando o governo diz, 'pegamos 150 fuzis, mais de 100 fuzis,' isso não é nada. Isso não é nada perto do que o tráfico tem em mãos.

"São 120 corpos. Isso sim a gente lamenta, porque mesmo que fosse um bandido, um traficante, primeiro deveria ser preso, depois julgado e tudo mais. Você não pode chegar em alguém, amarrar as mãos e dar um tiro na nuca. Isso é execução. A violência acabou no Rio de Janeiro? Não, não acabou," diz.
Aftermath of police operation against gangs in Rio de Janeiro
Pessoas seguram uma faixa contra o governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro, em frente a corpos em uma rua do Rio de Janeiro. Source: EFE / ANTONIO LACERDA/EPA

Vamos esperar os próximos dias ainda muita coisa pode vir à tona,' completa Rosa.

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