Nos mundiais de atletismo, na semana passada em Tóquio, a bandeira de Portugal foi içada por duas vezes e o hino de Portugal ecoou por duas vezes, para celebrar outros tantos campeões do mundo. Pedro Pablo Pichardo, 32 anos, campeão mundial do triplo salto. E Isaac Nader, 26 anos, campeão mundial da corrida de 1500 metros.
Pedro Pablo Pichardo, nasceu em Cuba e já deu a Portugal, no triplo salto, 12 medalhas de ouro, cinco de prata e uma de bronze.
Isaac Nader nasceu em Faro, no Algarve, filho de um emigrante marroquino. Nader já deu a Portugal très medalhas cimeiras.
Foi também em Faro que, pouco antes de Nader nascer, Francis Obirah Obikwelu procurou trabalho, como imigrante clandestino, na construção civil.
Em 1994, Obikwelu aterrou em Lisboa para correr no Campeonato do Mundo de Atletismo para Juniores. Tinha 16 anos, vinha da Nigéria, onde nasceu, e vinha decidido a ficar. Pouco antes de o treinador juntar os atletas para regressarem à Nigéria, escondeu-se numa pensão no Rossio. Sem dinheiro e com fome, foi para o Algarve, onde lhe disseram que era fácil encontrar trabalho nas obras.
Só em 1996 entrou num clube e é português desde 2001. Quantas medalhas deu a Portugal? Sete de ouro, quatro de prata e uma de bronze, incluindo a dos Jogos Olímpicos de Atenas, em 2004 — dez anos depois de decidir ficar ilegalmente em Portugal.
A jornalista Bárbara Reis, editora no jornal Público, tratou de fazer contas e apurou: só 15 imigrantes ou filhos de imigrantes já deram pelo menos 133 podios desportivos com medalhas a Portugal.
É o caso de Nelson Évora. Nasceu na Costa do Marfim, filho de cabo-verdianos, adquiriu a nacionalidade cabo-verdiana, até que veio para Portugal e se tornou português.
Nelson Évora deu a Portugal 20 medalhas (13 de ouro, três de prata e quatro de bronze) no triplo salto.
Estão na memória a lágrimas no pódio dos Jogos Olímpicos de Pequim enquanto se ouve o hino de Portugal.
Outro caso: Auriol Dongmo Mekemnang, atleta de lançamento de peso e disco, que nasceu nos Camarões e representa Portugal desde 2020, já deu a Portugal três medalhas de ouro e três de prata.
Podemos continuar este exercício e concluímos: só 15 imigrantes deram 133 medalhas a Portugal nos últimos anos. E nem entra nesta lista o futebol e aqui quem não se lembra do golo de Éder (Ederzito António Macedo Lopes), nascido na Guiné-Bissau, que deu o Euro 2016 a Portugal?
Aqui está um dos lados do contributo de migrantes para glória portuguesas.
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