Há uma marca muito reforçada neste Natal português de 2022: é a da solidariedade.
O custo de vida ficou muito mais caro neste ano que ficou sombrio pelos efeitos da guerra.
Os dados recolhidos pela Deco (Defesa do Consumidor,)para um cabaz de 16 produtos que tipicamente estão na mesa da consoada de Natal indica que esse aumento dos preços dos produtos alimentares terá resultado num acréscimo de cerca de 23% na fatura do supermercado.
As maiores subidas são registadas nos produtos que tipicamente são usados pelos portugueses na confeção de doces nesta época festiva. O arroz carolino, usado muitas vezes no arroz-doce, é o produto que mais encareceu em termos percentuais: o preço subiu 79%, de uma média de 1,14 euros por quilo no início deste ano para 2,04 euros a 14 de Dezembro.
Tomemos como exemplo um doce bastante comum na noite da consoada: se, para a confecção de rabanadas, usasse 800 mililitros de leite, 100 gramas de açúcar, seis carcaças tradicionais, três ovos e 500 mililitros de óleo, em Janeiro, este prato custaria à volta de 3,33 euros. Agora, o mesmo prato de rabanadas fica por 4,37 euros, 1,04 euros mais caro – ou seja, um aumento de 32%.
E para quem não dispensa o tradicional bacalhau com couves e batatas cozidas, saiba que também estes produtos sofreram com os níveis de inflação. Um quilo de bacalhau graúdo está mais caro 19,3%. Já um quilo de batatas subiu 34,5%. E um quilo de couves aumentou 43%.
A noite, tal como o almoço de Natal é por tradição passada em família, desta vez, a família é tomada em sentido mais amplo, com famílias mais confortáveis a incluírem neste Natal quem está mais – usaria a expressão: desamparado.
Há vários grupos de voluntários que trocaram o Natal em casa por Natal em espaços amplos onde possam partilhar a ceia e o almoço de Natal com quem está mais carente.
Um exemplo: os migrantes timorenses que nestas últimas semanas e nestes últimos meses chegaram a Portugal, todos estão convidados para uma ceia e almoço num clube no mais popular e famoso bairro de Lisboa, o de Alfama.
O Grupo Sportivo Adicense, em Alfama, acolhe neste fim de semana da Natal toda a comunidade timorense que queira juntar-se.
A iniciativa é de duas pessoas que têm sido incansáveis a liderar nestes últimos meses o apoio concreto a estes timorenses recém-chegados, refiro-me a Mariana Cordeiro e Tânia Correia – Tânia, arquiteta com percurso de uma dúzia de anos em Timor e que conserva o forte afeto pelo povo timorense, é tratada or estes timorenses como “Mãe Tânia”.
Tânia e Mariana têm liderado o apoio em roupas, em comida, a cuidar alojamento, também passes para deslocações e possibilidades d posto de trabalho.
Neste fim de semana de Natal organizam a celebração natalícia aberta a todos os timorenses, no Adicense. Há várias formas de cozinhar arroz, também doces na ementa.
Este é um exemplo de solidariedade com timorenses, mas muitas outras iniciativas da mesma natureza marcam este Natal português de 2022.
Para mais de um milhão de famílias, as de menores rendimentos, chegou uma prenda do governo neste Natal: um bónus de 240 euros que já foi depositado na conta bancária no dia 23. Em outubro tinham sido 125 euros para cada pessoa e o adiantamento de meia pensão a todos os reformados.
É, em suma, um tempo para a solidariedade e isso ficou evidente nas doações neste Natal ao Banco Alimentar contra a Fome: foram doadas 1500 toneladas de alimentos, a maior entrega de sempre nas habituais campanhas desta iniciativa de partilha de apoios.
Dentro desse espírito, Rita Valadas, presidente da Cáritas Portuguesa, reuniu-se esta véspera de Natal com o presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, no Palácio de Belém, para lhe entregar uma vela solene da Cáritas Portuguesa. Na cerimónia, Marcelo Rebelo de Sousa notou que “a paz é inseparável” da “justiça, desenvolvimento, igualdade, liberdade e condições económicas e sociais de vida”, e que “é construída todos os dias na nossa rua, no nosso bairro e na nossa aldeia”.
O chefe de Estado português apelidou os últimos três anos de "muito maus". 2020 e 2021 com o mundo a braços com a pandemia — que "agravou desigualdades" e "congelou a vida das pessoas" — e 2022 com a invasão russa da Ucrânia e as consequências socioeconómicas do conflito.
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