Mostram, também, que há escolas com quebras de 40%, com o interior do país a sofrer o maior impacto — “Estamos perante uma litoralização do ensino superior", afirmam, preocupados, vários responsáveis por universidades e politécnicos.
Este ano letivo 2025/2026 a começar, para além de perder seis mil estudantes face a 2024, regista uma diminuição da procura em competências digitais e um aumento nas licenciaturas que formam para a profissão de professor.
Apresentaram-se a concurso este ano 48 718 candidatos, o que representa uma diminuição de 16,4% face ao ano passado.
As engenharias dominam cada vez mais o top10 dos cursos de média mais elevada.
O curso de Engenharia Aeroespacial na Universidade do Porto está no topo da tabela com a média mais alta: o último colocado entrou com 19,43 valores (nota máxima, 20 valores, na grelha de avaliação de 0 a 20). Não sobra nenhuma das 30 vagas.
No top10 das médias de entrada mais elevadas, só três cursos não pertencem à área de estudos das engenharias: o caso de Medicina na Universidade do Porto, Matemática Aplicada à Economia e à Gestão na versão portuguesa bem como a ensinada em inglês no Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG) em Lisboa, e Medicina no Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar do Porto.
Nestes dez primeiros lugares, figuram quatro cursos de Engenharia Aeroespacial, um de Engenharia de Sistemas Informáticos, um de Engenharia e Gestão Industrial, e os “intrusos”: dois cursos de Medicina e outros dois de Matemática Aplicada à Economia e Gestão.
E se em 2024 a Arquitetura, na Universidade do Porto, ainda aparecia nesta tabela como o único curso da área de Humanidades, este ano foi relegada para 17.º lugar, com o seu último colocado a entrar com 17,88 valores. A tabela dos dez primeiros encerra-se com o mesmo curso que a lidera, Engenharia Aeroespacial, mas um pouco mais a sul na Universidade de Aveiro. Aqui, a média é de 18,38 valores.
Ao analisar as instituições, a Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto e o ISEG em Lisboa empatam no número de lugares ocupados na tabela de honra. O Porto conta com duas posições, onde se situam Engenharia Aeroespacial e Engenharia e Gestão Industrial, ao passo que o ISEG detém dois lugares com o mesmo curso, em versão em português e outra em inglês.
No mapa, é o Porto que está mais bem representado no top10, com quatro cursos. Segue-se Lisboa, com três, e Aveiro e Barcelos com uma instituição cada um.
Do outro lado do espectro, é em Santarém que se encontra o curso com a nota mais baixa de entrada. O último colocado do curso de Contabilidade e Fiscalidade, lecionado na Escola Superior de Gestão e Tecnologia do Instituto Politécnico de Santarém entrou com 9,55 valores. Ao todo, foram colocadas seis pessoas e ainda sobram 38 vagas no curso para a segunda fase, agora a começar.
No top10 dos cursos de nota mais baixa, onde figuram os distritos de Santarém, Castelo Branco, Lisboa, Bragança, Aveiro, e Portalegre, oito contam com 10,1 ou mais de média. Três cursos são de Gestão, a área mais representada, e há dois em regime pós-laboral: Marketing (no Instituto Superior de Contabilidade e Administração de Aveiro) e Direção e Gestão Hoteleira (da Escola Superior de Hotelaria e Turismo do Estoril).
Os dez cursos com a nota mais baixa fecham com Engenharia Eletrotécnica no Instituto Superior de Engenharia de Lisboa: a média chegou aos 10,38 e 32 das 58 vagas encontram-se preenchidas.
As vagas que transitam para a segunda fase agora a decorrer aumentaram 130,4% em relação a 2024, sendo que 11.513 lugares ainda não têm alunos atribuídos. Mas não é provável que isso venha a acontecer, porque 90,1% dos alunos já encontrou colocação — e 90,9% ficaram numa das suas três primeiras opções, detalha o Ministério da Educação.
Após esta primeira fase do concurso de acesso ao ensino superior, duas instituições esgotaram as suas vagas. É o caso do ISCTE, com 1.214 colocados e onde o curso de média mais alta (16,65) é o de Psicologia, e a Escola Superior de Enfermagem de Lisboa, com 278 colocados e em que a última pessoa entrou com 15,1 valores.
É ainda em Lisboa que se situa a instituição que mais alunos integrou nesta primeira fase: a Universidade de Lisboa, com 7.076 alunos. Seguem-se a Universidade do Porto, com 4.929, e a Universidade de Coimbra, com 3.475 alunos.
Por outro lado, é em Trás-os-Montes que se situa a instituição onde mais vagas sobraram. No Instituto Politécnico de Bragança, 1.282 lugares ainda aguardam por alunos.
De um ano para o outro, cresceu o número de cursos superiores em que nenhuma pessoa ficou colocada. Em 2025, são 41, mais dez do que há um ano. É novamente o Instituto Politécnico de Bragança que conta com mais licenciaturas vazias, onze em vez das nove registadas em 2024. Gerontologia, Engenharia de Energias Renováveis, Educação Ambiental ou Enologia foram alguns dos cursos que não atraíram ninguém.
O top 3 é fechado pelos Institutos Politécnicos de Guarda e Portalegre, com cinco cursos vazios cada um.
Conclui-se que no momento de escolher um curso, os estudantes portugueses parecem estar na sua primeira opção mais inclinados para as áreas da Engenharia, Saúde e Ciências Empresariais, uma ordem que difere da registada no ano passado, quando as licenciaturas destinadas a formar novos profissionais de saúde estavam em terceiro lugar.
Está a crescer a discussão sobre os porquês da queda, pela primeira vez, do número de portugueses candidatos ao ensino superior público. As análises, designadamente as das associações de estudantes convergem num ponto: o preço exorbitante da habitação, com o alojamento num quarto em Lisboa ou no Porto a poder custar entre 500 e 700 euros por mês.
Outras constatações e queixas: o ensino politécnico registou uma forte quebra de colocações (cerca de 14 mil alunos, 63% de taxa de colocação), fenómeno que está a ser também atribuído ao novo modelo de acesso — com mais provas específicas e menor peso do secundário — penalizando sobretudo alunos de meios menos favorecidos e regiões do Interior
Outro dado: cresce o número de portugueses que escolhe desenvolver o curso superior numa universidade estrangeira – e a Austrália aparece entre os destinos desejados, enquanto os Estados Unidos, no atual quadro político, estão em baixa expressiva.
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