Não há dúvidas de que a causa próxima do desastre é o rebentamento do cabo de aço que fazia funcionar em roldana com sistema de contrapeso as duas carruagens. Esse cabo de aço é suposto ser muito robusto, envolvido por cabos de ferro em espiral.
Ora, o rebentamento aconteceu às seis e cinco da tarde, mas à 9 da manhã tinha sido inspecionado, em rotina, pela equipa de manutenção que inscreveu no relatório “tudo OK”. Como é que rebenta 9 horas depois, é a sombra que está por levantar. O cabo é a grande questão, mas há uma outra. Estas carruagens são umas caixas de madeira, revestidas por lata. Como se fosse um contentor assente numa estrutura de ferro com o rodado.
Foram concebidos em 1885 pelo engenheiro português Raoul Mesnier du Ponsard e funcionavam originalmente com um contrapeso de água. Posteriormente, passaram a utilizar um sistema movido a vapor e, em 1914, foram pioneiras na tração elétrica. Mas sempre com as mesmas carruagens de madeira construídas há 140 anos.
A fragilidade das carruagens está evidenciada como neste desastre a carruagem ficou destroçada como se fosse uma caixa de papelão amachucada para deitar para o lixo. Os portugueses amavam esta relíquias, os estrangeiros também as usavam abundantemente. Mas há quem esteja a comentar que eram peças de museu.
Com as modernas carruagens de elétricos, a destruição certamente não teria sido tão total e terrível. Mais, este sistema de funicular da Glória foi pensado para transportar umas 100 mil pessoas por ano. Agora, com a mesma estrutura, transporta quase três milhões de passageiros por ano. Antes, havia 4 viagens por hora, agora, o vai e vem era permanente, com carruagens sempre cheias.
Aconteceu a tragédia que matou 16 pessoas, feriu 22, 6 em estado crítico. Entre os 16 mortos, 11 são estrangeiros: estão confirmados dois sul-coreanos, dois canadianos, um cidadão alemão, uma suiça, um ucraniano e um norte-americano.
Passadas 24 horas sobre a tragédia, os peritos da medicina legal estão a recorrer a testes genéticos e a pedir fichas dentárias para confirmar outras identidades. Entre os feridos, há brasileiros, espanhois, italianos e franceses, todos a recuperar bem.
Mas há 6 casos, um português e outros 5 europeus que suscitam sérios cuidados. Entre eles uma alemã, que protagoniza uma das muitas histórias dramáticas deste desastre. Ela, o marido e o filho com 3 anos tinham chegado a Lisboa para 4 dias de escapadela. Seguiam da Baixa para o Bairro Alto na carruagem, que ficou desgovernada.
O menino, de 3 anos, foi a primeira pessoa a ser salva. Ficou quase à superfície dos destroços e as primeiras pessoas a aparecer ali, logo nos primeiros segundos, recuperaram-no e abraçaram-no até chegarem os primeiros socorristas em mais de 40 ambulâncias. O menino, fisicamente, está bem. Mas o pai morreu e a mãe, grávida, em estado crítico. A família já chegou da Alemanha para cuidar dele – e com esperança de sobrevivência da mãe.
Na ocasião em que se discutem leis restritivas a migrantes, uma nota, foram migrantes alguns dos primeiros socorristas nesta tragédia.
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