A capoeira adaptada é uma metodologia que permite que pessoas com deficiência pratiquem a arte marcial brasileira. Ela ajusta os movimentos de acordo com as capacidades físicas de cada indivíduo.
Bruna Rebouças, professora de Educação Física, trabalhava como assistente social em Brisbane, quando percebeu uma grande lacuna nas atividades em grupo para pessoas com deficiência.
Cansada de ver as mesmas opções como aulas de culinária, artesanato e musicoterapia, Bruna pensou em buscar atividades físicas – em grupo – que poderiam servir às pessoas com deficiência física ou mental.
Foi daí que surgiu a ideia de ‘importar’ a metodologia da capoeira adaptada para a Austrália.
Com a ajuda do marido, Daniel, professor de inglês, ela transformou a ideia em realidade, foi para o Brasil em viagem de pesquisa e trouxe a metodologia para pessoas com deficiência na Austrália.

David e a instrutora Madeira: "Capoeira é para pessoas de todas as habilidades", diz Madeira.
Na reportagem a seguir falamos com a Bruna Rebouças, e também com um dos participantes do programa, David Vine e a professora Siobhann Mccaferty, uma neo zelandesa que se apaixonou pela capoeira e hoje dá aulas de capoeira adaptada.
As entrevistas com David e Madeira são em inglês e vale a pena ouvi-los falar palavras como ‘ginga’ e como adotaram a cultura afro brasileira trazida pela capoeira.

Nas aulas da capoeira adaptada o berimbau, instrumento clássico de uma corda
Programa ensina movimento, música e ginga brasileira
“Criamos o programa ‘Ginga’ com uma missão simples, mas poderosa: levar alegria, movimento e conexão cultural à vida de pessoas com deficiência, nosso trabalho é mais do que atividade — é sobre conexão, celebração e construção de um espaço onde todas as pessoas possam prosperar, não importando suas habilidades,” conta Bruna.
O resultado é um programa itinerante ministrado em escolas especiais e centros comunitários, como o Inala Community Centre (Inala, Queensland), por um período de dez aulas.
O programa deu tão certo que hoje é reconhecido pelo NDIS (National Disability Insurance Agency).
O NDIS, ou Plano Nacional de Seguro de Invalidez, é um programa do governo australiano que oferece apoio às pessoas com deficiências permanentes e significativas.
O NDIS financia uma gama de serviços adaptados, inclusive a capoeira, ou seja, participantes do NDIS podem fazer capoeira frátis, sem nenhum custo.
“Temos participantes com dificuldade de mobilidade, cadeirantes, pessoas com esclerose múltipla, paralisia cerebral, física. É como eu digo não existe certo e errado na capoeira, você faz o que você pode fazer, entendeu? Não existe técnica perfeita é expressão corporal é uma arte e que é realizada em grupo,” ressalta Bruna.

“Criamos o programa ‘Ginga’ com uma missão simples, mas poderosa: levar alegria, movimento e conexão cultural à vida de pessoas com deficiência," diz Bruna.
David Vine, 49 anos, sofreu um acidente de carro que o deixou com as costelas quebradas e afetou suas pernas e costas, levando-o a usar cadeira de rodas. Ele também foi diagnosticado com autismo, e devido ao acidente, sofre períodos de depressão, transtorno de estresse pós-traumático e Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade" (TDAH).
Para ele as aulas de capoeira, totalmente subsidiadas pelo governo australiano, têm sido um alívio.
“Tudo o que posso dizer é que, desde que comecei na capoeira, ela me ajudou muito, sabe, em termos de reabilitação e coisas assim. Quando tive a oportunidade de conhecer a capoeira e os benefícios para a saúde que ela nos traz, foi realmente fundamental. Sabe, tipo, simplesmente começar a usar os chutes e coisas assim, os socos, e melhorar muito minha mobilidade,’ conta.
"A música, o canto, os movimentos. Eu tive crises de depressão, algumas vezes nos últimos dois anos, e não é nada agradável.
“Minhas aulas de quarta-feira me fazem pensar em outra coisa em vez dos meus próprios problemas e aborrecimentos que estão na minha vida o tempo todo.
“Eu sei, não é só chutar. Bem, essa é a palavra, chama-se ‘ginga’. É onde você faz essa coisa com os braços, para cima e para baixo, esquerda e direita. Agradeço muito à toda a equipe principalmente à professora Madeira,” diz David.

Instrutora 'Madeira' no berimbau: paixão pela capoeira
Siobhann Mccafferty, neo zelandesa descobriu a capoeira na Nova Zelândia, praticou mesmo na Escócia, e hoje dá aulas de capoeira adaptada.
Conhecida como instrutora ‘Madeira’, por causa de uma brincadeira sobre sua falta de flexibilidade inicial, ela se mudou para a Austrália em 2008, quando comecóu a prticar aqui.
“A capoeira é uma ferramenta de ajuda. Música, movimento, artes marciais, mas também dança e um pouco de filosofia. Então, acho que é realmente única. Uma forma de manifestação cultural e uma bela maneira de ver o mundo também. Você também pode adaptar os movimentos e a capoeira, que são muito fáceis de praticar, “diz.
“Há uma porta que pode ser aberta para você, quando você entra na capoeira,” diz Madeira.
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