Bolsonaro pode estar ‘testando limites’ do STF: análise política da prisão domiciliar

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O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) apagou o vídeo que mostrava o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) participando, por telefone, do ato na orla de Copacabana, no Rio de Janeiro, neste domingo (3).

"Com a prisão domiciliar, politicamente pode existir a vantagem de termos essa vitimização," analisa Deborah Barros Leal Farias, Doutora em Ciência Política, e professora da Universidade de Nova Gales do Sul UNSW). Segundo ela existem várias maneiras de analisarmos o porquê Jair Bolsonaro infringiu a proibição do uso de redes sociais e as condições de impostas pelo Supremo Tribunal Federal.


O Supremo Tribunal Federal (STF) decretou na segunda-feira a prisão domiciliar do ex-presidente Jair Bolsonaro, que está sendo julgado por supostamente liderar uma tentativa de golpe após a derrota nas eleições de 2022, e planos para assassinar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e um ministro do STF.

O ministro Alexandre de Moraes, do STF, emitiu a ordem, afirmando em sua decisão que Bolsonaro violou as medidas cautelares impostas a ele ao publicar conteúdo nas redes sociais de seu filho.

Neste domingo (3/8), o ex-presidente apareceu por meio de uma ligação de vídeo no celular do deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) nas manifestações de apoiadores em São Paulo, e depois em um vídeo na rede social de um dos filhos, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ).

"A participação dissimulada de Jair Messias Bolsonaro, preparando material pré-fabricado para divulgação nas manifestações e redes sociais, demonstrou claramente que manteve a conduta ilícita de tentar coagir o Supremo Tribunal Federal e obstruir a Justiça, em flagrante desrespeito as medidas cautelares anteriormente impostas", escreveu o ministro Alexandre de Moraes.
Alexandre de Moraes
Ministros Alexandre de Moraes e Edson Fachin: "A participação dissimulada de Jair Messias Bolsonaro demonstrou claramente que manteve a conduta ilícita de tentar coagir o STF" Source: AP / Eraldo Peres/AP
A decisão é um agravamento das medidas cautelares já impostas em julho pelo ministro.

Em 17 de julho, Moraes impôs o uso de tornozeleira eletrônica, recolhimento domiciliar noturno e proibição de usar redes sociais, direta ou indiretamente.

A decisão mais recente mantém Bolsonaro em casa, sob monitoramento de tornozeleira, permite apenas visitas de familiares e advogados e apreende todos os celulares de sua casa no Rio de Janeiro.

Para Deborah Barros Leal Farias, Mestre em Relações Internacionais, Doutora em Ciência Política, professora da Universidade de Nova Gales do Sul, existem várias maneiras de analisar o porque Bolsonaro decidiu infringir a proibição do uso de redes sociais e as condições de impostas pelo STF.

“Vi comentários questionando ‘será que o Bolsonaro está querendo cravar uma falta?’ Existem vantagens políticas em termos de vermos imagens da prisão. Porque aí você já entra no elemento do martírio, no elemento da perseguição política.
Former President Jair Bolsonaro Attends Meetings At National Congress
Jair Bolsonaro mostra tornozeleira eletrônica: a decisão do STF é um agravamento das medidas cautelares já impostas em julho pelo ministro Alexandre de Moraes. Credit: Bloomberg/Bloomberg via Getty Images

“O que é interessante para muita gente é que a decisão não foi de prisão preventiva. Não foi uma decisão de mandar para cadeia, mas sim de uma prisão domiciliar. Se alguém da equipe dele quisesse mesmo ‘cravar falta’ uma prisão domiciliar não tem o mesmo peso, o mesmo impacto que uma prisão de ir para por exemplo, o presídio da Papuda, teria.

“Agora politicamente existe essa vantagem de vitimização, vamos ver o que as pesquisas vão dizer, o que acham as pessoas que não são bolsonaristas nem lulistas. Esse meio do caminho que vai ser interessante ver e do que que vai ser dito nas pesquisas [de opinião], diz Deborah.

Também perguntamos à cientista política sobre a repercussão da notícia nos Estados Unidos. Segundo Deborah, os Estados Unidos e o presidente americano Donald Trump “têm problemas demais para se preocuparem com o Brasil, na imprensa americana, não é notícia de primeira página em lugar nenhum," analisa.

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