Esta história que você vai ouvir apresenta relatos de violência doméstica.
Se você ou alguém que você conhece for afetado por violência doméstica e familiar, ligue para 1800RESPECT no número 1800 737 732. Em caso de emergência, ligue para 000.
O Serviço de Encaminhamento para Homens, operado pela No to Violence, pode ser contatado pelo telefone 1300 766 491.
—-
Diana é uma mãe solteira que mora em Victoria. Depois de fugir da fazenda da família com dois filhos por conta de violência doméstica, ela teve dificuldades para encontrar um lugar para morar.
No pior momento desta jornada, Diana morava no carro com o filho pequeno, em frente a uma lanchonete. As memórias deste período ainda são difíceis de lidar.

Depois de anos de luta a fugir da violência doméstica com sua filha, e também em tratamento de câncer, Diana espera que um novo projeto a leve em breve para uma casa própria. Source: SBS / Scott Cardwell
"Perdemos nossa comunidade, nossa casa, perdi meus jardins, que eu também amava. Perdemos tudo o que conhecíamos e que era seguro para nós. Chegou um momento, por três semanas, em que eu e minha filha moramos no meu carro, e foi absolutamente devastador."
Como muitas outras mulheres que enfrentam uma situação de vulnerabilidade habitacional, Diana é uma sobrevivente de violência doméstica. Mas virar uma sem-teto com filho pra cuidar não foi o pior que aconteceu a ela.
Durante este período, ela também foi diagnosticada com câncer.
"O câncer tinha afetado meu estômago, então eu precisava me alimentar por sonda praticamente 24 horas por dia, 7 dias por semana. Morando no carro, você precisa conectá-lo a alguma coisa. Não sei como superamos isso."
Nos últimos anos, o número de mulheres como Diana que buscam apoio habitacional aumentou significativamente, de acordo com Kate Colvin, CEO da Homelessness Australia.
Esta é a entidade liderada por Colvin que luta contra a falta de moradia na Austrália, oferecendo apoio a pessoas em situação de rua.
Ela afirma que o número de mulheres sem teto e que procuram os serviços aumentou 20% em três anos.
"O que nossa análise revela é que mulheres e meninas que recorrem a serviços para moradores de rua e que já perderam suas casas aumentaram 20% apenas nos últimos três anos."
A triste realidade é que, quando as mulheres recorrem a um serviço para pessoas em situação de rua e não conseguem a ajuda de que precisam, se estão fugindo da violência familiar, muitas vezes o que vemos é que elas retornam àquela situação de violência porque se sentem mais seguras do que estar na rua."
"O que precisamos é que as mulheres tenham acesso a um lar de longo prazo que possam pagar. Isso significa muito mais investimento em moradia social, mas também precisamos de investimento em moradia de emergência. Assim, quando as mulheres não tiverem para onde ir naquela noite, haverá um lugar seguro para elas estarem."
Diana entende o dilema que Kate Colvin coloca.
A ex-fazendeira nascida na Nova Zelândia passou anos pulando em acomodações temporárias. Entre outros impactos, o psicológico é tremendo.
"O estresse financeiro, a luta para encontrar um lugar, era impossível, absolutamente impossível. É devastador e você se sente tão pequeno, como se não merecesse nada. A St Vincent de Paul nos colocou em uma casa segura em Melbourne e ficamos lá por um ano."
Estima-se que mais de 400 mil mulheres idosas na Austrália correm o risco de ficar sem ter onde morar.
Kate Colvin, da Homelessness Australia, afirma que a crise está piorando.
"Esta é uma situação de emergência e precisamos de ação rápida. Estou extremamente preocupada porque venho trabalhando nessa questão há muito tempo — e vejo que está piorando; e a crise imobiliária está afetando cada vez mais pessoas na faixa de renda mais alta. Agora vemos trabalhadores com baixos salários e até mesmo pessoas com rendas mais altas, e isso realmente gera dificuldades no mercado de aluguel."
A Global Sisters, organização sem fins lucrativos, está implementando um projeto piloto que visa construir casas para acolher mulheres que em situação de vulnerabilidade extrema.
O projetro se chama Little Green Houses. A fundadora e CEO Mandy Richards explica:
"O projeto Little Green Houses visa oferecer moradia acessível a mulheres australianas de baixa renda e que enfrentam insegurança habitacional. Portanto, essas mulheres estão completamente excluídas do mercado imobiliário. Elas não conseguem acessar uma hipoteca. Elas não têm a mínima esperança de comprar uma casa ou terreno."
O projeto piloto de 3 milhões de dólares visa construir até oito casas pequenas e energeticamente eficientes para mulheres nesta situação em áreas regionais de Nova Gales do Sul até o Natal.
Richards afirma que projetos semelhantes serão implementados em outros estados.
"Então, estamos tentando matar dois coelhos com uma cajadada só e colocar um trunfo na forma de propriedade de moradia nas mãos das mulheres australianas que mais precisam. Estamos nos concentrando em mães solo. E a razão para isso, em particular, é que, se pudermos ajudar essas mulheres a alcançar segurança econômica, evitaremos que se tornem o número crescente de mulheres que vemos enfrentando a falta de moradia, vivendo em seus carros e dormindo no sofá de outras pessoas."
Diana não consegue trabalhar em tempo integral nem economizar para a hipoteca por conta dos problemas de saúde, o que lhe desperta o medo de viver novamente o drama de não ter onde morar.
"Eu sofro de vários tipos diferentes de câncer. Na verdade, acabei de passar por mais dois cânceres no momento, câncer de mama e sarcoma na perna. Não tenho nenhuma economia, não tenho aposentadoria. Então, conseguir pagar minha própria casa agora que estou na casa dos cinquenta e poucos anos é impossível."
"Minha filha e eu olhamos 122 aluguéis e não fomos aceitas em nenhum deles. O desespero, já ter sido sem-teto antes, sim, está sempre na sua cabeça. Então, você tem essa coisa te assombrando."
Diana agora administra um pequeno negócio de cerâmica em sua garagem, e sua filha Emma fabrica e vende joias.
Elas estão entre as candidatas selecionadas para o primeiro piloto de Little Green House.
Para a filha Emma, isso oferece uma estabilidade muito necessária.
"Eu consigo imaginar, tipo, ah, eu posso desempacotar aquelas caixas que estão lá há anos, eu posso colocar coisas nas paredes, eu posso personalizar minha casa, eu posso ter um lugar para ir e chamar de meu."
Com a próxima cirurgia se aproximando, Diana diz que comemorar o Natal em uma casa própria seria o melhor presente que ela poderia ter.
"Ah, imagine só, imagine me mudar para minha própria casa, meu próprio jardim, sabendo que tem segurança Ninguém poderia tirar de mim. É como um sonho."
—-
Para ouvir, clique no 'play' desta página.
Ouça os nossos podcasts. Escute o programa ao vivo da SBS em Português às quartas-feiras e domingos ao meio-dia.
Assine a 'SBS Portuguese' no Spotify, Apple Podcasts, iHeart Podcasts, PocketCasts ou na sua plataforma de áudio favorita.