‘Meus filhos surdos’: a jornada rumo à audição e à fala, de uma mãe brasileira na Austrália

Renata Reis and sons Gabriel and Luca (SBS).jpg

Renata Reis com os filhos do meio, Gabriel and Luca, o mais novo.

A empresária e mãe Renata Reis cujos três filhos nasceram na Austrália e com surdez congênita fala da jornada em direção à audição e à fala. Os três meninos têm um implante coclear, o dispositivo eletrônico criado na Austrália, e implantado cirurgicamente. A família também ganhou apoio do The Shepherd Centre, organização sem fins lucrativos em Sydney.


Após exames e testes a família pôde optar pelo implante coclear, um dispositivo eletrônico colocado cirurgicamente que estimula o nervo auditivo, substituindo a função da cóclea, que é a parte do ouvido interno responsável por converter sons em sinais nervosos. A invenção que já tem 40 anos é australiana.

Vivendo em Sydney a família também participou do programa de intervenção precoce oferecido pela organização sem fins lucrativos The Shepherd Centre.
Renata and her sons
Renata e o marido descobriram que eles compartilhavam um gene recessivo e havia uma chance em quatro de seus filhos nascerem surdos. Source: SBS / Amelia Dunn/SBS News

Renata Reis, mãe de Rafael, conta que seu primogênito tinha seis meses quando recebeu a tecnologia. Ela tem aquela primeira celebração gravada. Isso foi há 12 anos.

Rafael, agora com 13 anos, e seus irmãos mais novos, Gabriel, de 10 anos, e Luca, de seis anos foram todos diagnosticado com surdez logo após o nascimento.

Os irmãos, que moram em Sydney, tiveram o dispositivo implantado por volta dos seis meses de idade, mas foi apenas o começo de sua jornada rumo à audição e à fala.

Embora um implante coclear possa mudar vidas, a tecnologia por si só não é suficiente, afirma a Dra. Aleisha Davis, CEO do Shepherd Centre, organização sem fins lucrativos que ajuda crianças com perda auditiva a aprenderem a ouvir e falar.
An April 23, 2002 file photo of a Cochlear implant which is inserted into the ear of a deaf patient, Sydney. Cochlear are celebrating the 30th anniversary of their first implant back in 1982.
O primeiro protótipo coclear foi implantado em um paciente em 1978. Este implante foi um marco australiano na restauração da audição de pessoas surdas Source: AAP / AAP Image/Dan Peled
"Aparelhos auditivos ou implantes cocleares ajudam uma criança a ouvir, mas sozinhos, não ajudam. A tecnologia as ajuda a ouvir sons, mas o cérebro não está programado para entender o som em idades tão precoces. Por isso, oferecemos a terapia que permite que as crianças entendam o que são esses sinais e aprendam a usá-los em seus ambientes cotidianos," diz Alesha.
Não vejo a surdez deles como barreira, mas como desafio. A vida está aí para mostrar para gente que a gente vai aprender lidar com esses desafios, e vamos vencendo esses obstáculos, porque isso no fim das contas só nos fortalece.
Renata Reis
As crianças estão prosperando, também na língua portuguesa, diz a orgulhosa mãe, Renata, que migrou de Brasília para a Austrália há 17 anos.

Segundo ela, o bilingualismo adicionou uma camada extra na vida da família. "Além de aprender a falar e ouvir, nós queremos que nossos filhos falem as duas línguas, isso é possível sim.

"É muito interessante, por que uma das coisas que você aprende com a fonoaudióloga que a criança com uma perda auditiva e com implante coclear precisa de uma exposição muito maior ao vocabulário e aos diferentes sons do que uma criança com uma audição típica. Então assim você tem que praticar muito, e como somos bilíngues todos os livros que líamos para eles líamos também em Português," recorda.
Inclusive boy child cartoon character with deafness using hearing aid aerophone isolated on white
As sessões de terapia do The Shepherd Centre são para crianças surdas cujas famílias optaram por receber o implante coclear, que restaura a audição em pessoas através da estimulação elétrica do nervo auditivo. Source: iStockphoto / lemono/Getty Images
Segundo Renata, idiomas são fortes estímulos sonoros para a criança sem audição. "Hoje a gente tenta falar mais o português em casa," diz.

Mas além da língua portuguesa a música também é presente na vida dos meninos.

"O Rafael e o Gabriel, estão fazendo parte de uma banda na escola e a questão musical foi sempre muito importante para gente. No início nossas dúvidas eram sobre se eles vão conseguir escutar e entender a música e som, ao longo do tempo a gente viu que sim. Eles adoram música.

Rafael começou no saxofone o Gabriel no trumpete. Hoje Gabriel de 10 anos diz que quer ser rapper e está escrevendo música. Aí também entra a nossa cultura a identidade. Eles gostam da música brasileira, é uma coisa que a gente tá trazendo mais. Estivemos no Brasil recentemente fomos à Bahia e eles adoraram a música e se encantaram com a capoeira.

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