Entre rezas, chás e ciência: o ofício e saberes das parteiras tradicionais do Brasil

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Nas diferentes regiões do País, foram implementadas leis de amparo e promoção do ofício de parteira. Foto: Eduardo Queiroga Iphan/ UFPE

O ofício das parteiras, reconhecido pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) como Patrimônio Cultural do Brasil, é um saber ancestral que atravessa gerações. A prática segue sendo fundamental, sobretudo em áreas rurais, e comunidades indígenas e quilombolas.


Trata-se de um patrimônio vivo, construído a partir de práticas transmitidas de mulher para mulher, que seguem fundamentais para milhões de brasileiras, especialmente em áreas rurais, periferias urbanas e comunidades indígenas, quilombolas e de terreiros.

O reconhecimento foi aprovado pelo Iphan. Com a decisão, o “Ofício, Saberes e Práticas das Parteiras Tradicionais do Brasil” será inscrito no Livro de Registro dos Saberes, ao lado de outros bens culturais imateriais já registrados, como o Ofício das baianas de acarajé e os Modos de fazer o queijo Minas artesanal.

Um dossiê elaborado em 2021 por pesquisadores do Iphan e da Universidade Federal de Pernambuco descreve as parteiras como “mestras do ofício do partejar, detentoras de um repertório de saberes e práticas acerca de todas as etapas da gestação”.

Segundo o documento, limitar a atuação dessas mulheres ao momento do parto é ignorar a dimensão integral do cuidado que oferecem.

De acordo com o estudo, as parteiras atuam a partir de uma lógica de atenção contínua e holística, que inclui “processos fitoterapêuticos, prescrições alimentares preventivas e curativas, mediação religiosa e regimes de conduta social”.

Esse cuidado se estende à família da gestante e, muitas vezes, à comunidade como um todo, por meio de aconselhamento, mediação de conflitos e fortalecimento de redes de apoio.

Essa atuação faz com que as parteiras assumam um papel central nos territórios onde vivem. “Muitas vezes, as parteiras se tornam verdadeiras lideranças comunitárias, cuja palavra carrega peso e autoridade”, afirma Marina Lacerda, coordenadora de Registro e Revalidação do Departamento de Patrimônio Imaterial do Iphan. Para ela, é nesse papel social e simbólico que reside o principal valor patrimonial do ofício.

A educadora quilombola Givânia Maria da Silva destacou que o registro como Patrimônio Cultural do Brasil representa uma reparação histórica. “Em uma combinação de continuidades ancestrais com, em muitos casos, ausência total de políticas públicas, as parteiras foram e continuam sendo os únicos suportes à vida de centenas de mulheres e seus filhos e filhas”, afirmou.

Confira a entrevista com as parteiras tradicionais do norte do Brasil, clicando no botão 'play' desta página.

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