“A proposta foi criar uma série de atividades para explorar essa parceria entre Austrália e Brasil com foco no carbono e nas negociações da COP”, explica Mara Bún, uma das vozes mais influentes da sustentabilidade na Austrália e primeira mulher a presidir a Australian Conservation Foundation.
“Já realizamos encontros aqui na Austrália, envolvendo empresas como a Minerva e o Macquarie Bank, que investiu AU$ 2 bilhões em projetos de descarbonização no Brasil. É um intercâmbio que está só começando,” diz.
Além de fortalecer laços econômicos e tecnológicos, o projeto pela inovação climática da Câmara de Comércio Brasil-Austrália, quer ampliar o diálogo sobre transição energética e sustentabilidade entre dois países.
“As economias do Brasil e da Austrália são muito semelhantes — grandes em mineração, agricultura e recursos naturais. Mas enfrentamos os mesmos dilemas: reduzir emissões, proteger florestas e gerar empregos verdes. Trabalhando juntos, podemos encontrar soluções mais justas e eficazes”, afirma.
Belém no centro do mundo
Mara fará parte do grupo que participará de debates no pavilhão da Austrália e no novo espaço dedicado a povos indígenas.
“Imagina colocar uma COP desse tamanho em Belém. Pela primeira vez, o Brasil vai ter uma vila indígena dentro do evento, com três mil lideranças de todos os biomas”, conta. “É uma oportunidade única de aproximar o conhecimento ancestral dos povos indígenas do Brasil e da Austrália. Eles entendem como viver em harmonia com a natureza — algo que o mundo precisa reaprender.”
O sul global em movimento
Para Mara Bún, a COP30 marca uma virada na narrativa global sobre o clima. “Vivemos um momento único — de avanços tecnológicos e crises políticas. Mas a democracia segue forte no Brasil e na Austrália, e a sociedade quer agir. O futuro vai ser diferente do passado, e a ação conjunta do Sul Global pode redefinir o rumo das negociações.”
Ela acredita que o setor privado também está a fazer sua parte: “As empresas estão investindo pesado em energia limpa e soluções de baixo carbono. Não é só uma questão ambiental, é também uma oportunidade econômica — os empregos do futuro estão ligados à sustentabilidade.”
De Belém ao Pacífico
Com a Austrália candidata a sediar a COP31, a esperança é que o caminho iniciado na Amazônia continue no Pacífico.
“Realizar uma COP na Austrália, em parceria com as nações do Pacífico, onde os povos Aborígenes e das Ilhas do Estreito de Torres praticam manejo sustentável da terra há mais de 60 mil anos, seria simbólico e transformador”, afirma.
“Seria mudar a história das negociações climáticas, colocando o conhecimento indígena no centro das decisões.”
O que esperar da COP 30
Em Lisboa, a socióloga Luísa Schmidt, coordenadora do Observatório do Ambiente, Território e Sociedade (Observa), reforça a importância das COPs como espaços de diálogo global:
“É o único momento em que todos os países se sentam à mesa para tratar de uma questão de paz que tem a ver com o futuro das próximas gerações”, afirma. “Apesar das crises, é crucial que a ciência e a sociedade civil estejam presentes e se comuniquem.”
Luísa alerta para o agravamento simultâneo de crises — do desaparecimento de insetos e corais à escassez hídrica — mas mantém o tom de urgência com esperança:
“Não podemos cair no pessimismo. Temos que agir. O planeta precisa de cuidado e cooperação, e isso é exatamente o que a COP30 pode simbolizar.”
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