*Por motivos de privacidade o nome real da entrevistada for resguardado.
Mais da metade das mulheres imigrantes já sofreu assédio sexual no trabalho, com seus chefes entre os principais agressores. O dado foi revelado numa pesquisa do Sindicato dos Trabalhadores de Nova Gales do Sul (Unions NSW), em Sydney, em novembro de 2024.
Mais de três mil mulheres foram entrevistadas para o estudo.
De acordo com a pesquisa, cerca de metade (51%) das mulheres imigrantes que sofreram assédio sexual no ambiente de trabalho, três em cada quatro não denunciaram o assédio por medo de prejudicar seu status de imigração, muitas vezes, por possuírem um visto temporário, ou por medo de sofrer represálias.
Quando a pesquisa foi divulgada, Mark Morey, secretário da Unions NSW, afirmou que existe uma "cultura de intimidação" em muitos locais de trabalho na Austrália.

Pesquisa revela "cultura de intimidação" em muitos locais de trabalho na Austrália. Source: Getty / Caiaimage Getty Images
A SBS em português conversou com uma brasileira que relata assédio sexual perpetrado pelo chefe no trabalho, numa empresa de hospitalidade em Melbourne.
Ela foi empregada nesse local de 2016 a 2019, e onde voltou a trabalhar em 2021 e ficou até 2022, ano em que, segundo ela, ocorreu o incidente que a levou a entrar com sucesso, com o pedido de seguro trabalhista.
Na Austrália esse tipo de indenização é chamado de workers compensation, um seguro pago aos empregados que sofrem acidentes no trabalho ou desenvolvem doenças relacionadas ao trabalho.

Melissa diz que seu principal objetivo era levar o ex-chefe ao tribunal. Source: Getty
O Workers Compensation foi acionado e nesse período de quatro meses pagos pelo seguro, Melissa recebeu atendimento médico e psicológico para tratar o estresse e ansiedade diagnosticados por uma médica, que ao final dos quatro meses disse que Melissa estava apta a voltar ao trabalho.
"Quando você entra no Workers Compensation eles já entram em contato com a empresa seguradora. Eu me afastei do trabalho e tive várias sessões com psicólogo. Enquanto esperava por julgamento eu me senti apta para voltar ao trabalho. Só não queria voltar a trabalhar com essa pessoa, né? Então eles me colocaram em um estágio em uma outra empresa, onde trabalhei por 2 meses," recorda.
O caso de Melissa foi levado ao tribunal em janeiro de 2023, quando a empresa conseguiu demonstrar que o caso era 'discutível', o que significa que não tinha provas materiais suficients e assim acabou impedindo uma punição imediata ao chefe ou perpetrador.

Melissa conta que não tinha provas do assédio do chefe (foto ilustrativa) Source: Getty / Getty Images/ innovatedcaptures
Com a falta de provas, foi decidido que o pagamento da indenização trabalhista que Melissa recebeu da empresa por quatro meses - de outubro de 2022 até o dia do julgamento em fevereiro de 2023 - não seria mais realizado.
Hoje Melissa mora em outro estado, tem um emprego em tempo integral e diz se sentir respeitada no ambiente de trabalho.
Um dos serviços que Melissa disse ter sido essencial durante todo o processo foi o RESPECT, o serviço nacional de aconselhamento, informação e apoio para casos de violência doméstica, familiar e sexual.

Relatório da Unions NSW pede mudanças importantes na forma como vítimas de assédio sexual são tratadas quando fazem denúncia no trabalho. Source: Getty
Se você foi vítima de assédio sexual ou conhece alguém que precisa de ajuda, pode entrar em contato com o 1800RESPECT. O número é 1800 737 732, e o site é o 1800respect.org.au
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