Os aluguéis também seguem em alta em todas as capitais, levando mais australianos e residentes a dividir moradia ou a voltar para a casa da família. Como relata Sydney Lang para a SBS News, economistas preveem um novo aumento na taxa de juros em 2026.
Estatísticas sobre habitação costumam atrair atenção imediata no país, e as mais recentes não fogem à regra. A nova análise da empresa de dados imobiliários Cotality reforça o quadro de pressão sobre o mercado.
Em novembro, o valor dos imóveis subiu 1% em nível nacional, levando o preço médio de uma residência a 888.941 dólares. Brisbane tornou-se a segunda cidade australiana a ultrapassar a marca de um milhão de dólares para o preço médio de uma casa.
A chefe de pesquisa da Cotality, Eliza Owen, afirma que o segmento de menor valor, tradicionalmente visado por quem busca a primeira moradia, é o que mais impulsiona o crescimento.
Segundo a análise, os imóveis considerados mais baratos no mercado foram os que mais subiram de preço neste ano, com alta de quase nove por cento. Esse aumento superou até o crescimento registrado entre os imóveis mais caros, que foi de seis por cento. Cidades como Brisbane, Perth e Adelaide seguem puxando esse movimento. Só em Perth, os preços avançaram 2,4% no último mês. Em Darwin, a alta acumulada no ano chegou a 17%.
Os dados também apontam aumento na presença de investidores e queda no número de compradores pela primeira vez, uma tendência identificada em outros levantamentos. Para a senadora dos Verdes, Barbara Pocock, isso exclui parcelas crescentes da população da possibilidade de ter a própria casa.
Além da política pública, as taxas de juros seguem como força determinante. A Cotality estima que os cortes promovidos em 2025 elevaram o valor dos imóveis em 7,5% nos últimos 12 meses. O ritmo mais brando observado em novembro indica que muitos compradores já atingiram o limite do próprio poder aquisitivo.
Owen explica que o salto nos preços anulou o ganho oferecido pelos cortes. A consultoria calcula que a capacidade de financiamento de uma família com renda mediana aumentou 55.000 dólares, enquanto o valor das residências subiu 60.000 dólares no mesmo período.
Indicadores de acessibilidade do trimestre encerrado em setembro revelam ainda um novo recorde: o preço mediano dos imóveis equivale a 8,2 vezes a renda familiar anual antes dos impostos. A fatia da renda necessária para pagar um financiamento no valor mediano chegou a 45%, também recorde. Para Owen, isso ajuda a explicar a concentração crescente da demanda no segmento de menor valor, mesmo entre pessoas com renda média e alta.
Para quem vive de aluguel, o quadro é mais severo. Os valores subiram cinco por cento no último ano, o maior avanço anual em doze meses. Pocock afirma que muitas pessoas estão sendo deixadas para trás e critica o sistema tributário, que, segundo ela, alimenta o problema.
A crise de moradia também é influenciada pela baixa oferta. Construtoras relatam entraves na execução de políticas que ampliariam o estoque de habitação social, acessível e de imóveis destinados exclusivamente à locação.
A Cotality calcula que há hoje dez por cento menos imóveis disponíveis para venda do que há um ano e seis por cento abaixo da média dos últimos cinco anos. Apesar disso, uma eventual queda na demanda — impulsionada por menor imigração e por famílias que se unem para dividir custos — não deve ser suficiente para conter totalmente a pressão sobre os preços.
Owen aponta que o equilíbrio entre custos de vida altos, limites de acessibilidade e juros estáveis por um período prolongado pode restringir o crescimento do crédito e moderar a demanda. No entanto, a oferta limitada continua a sustentar o mercado, já que proprietários hesitam em vender em condições desfavoráveis e construtoras adiam novos projetos quando os sinais de preço não estimulam a produção.
Esse descompasso deve manter a pressão sobre os preços e sustentar aumentos pelo menos até 2026.
Para ouvir, clique no botão 'play' desta página.
Ouça os nossos podcasts. Escute o programa ao vivo da SBS em Português às quartas-feiras e domingos ao meio-dia. Assine a 'SBS Portuguese' no Spotify, Apple Podcasts, iHeart Podcasts, PocketCasts ou na sua plataforma de áudio favorita.




