Comprar ou alugar imóveis fica tão caro na Austrália que queda dos juros não faz diferença

A sign outside a house that reads 'For Lease'.

Menos de um em cada 100 trabalhadores que recebem salário mínimo consegue pagar aluguel de imóvel, segundo o mais recente Rental Affordability Snapshot da Anglicare Australia. Source: AAP / James Ross

Novos dados mostram que a disparada dos preços dos imóveis residenciais na Austrália já anulou os benefícios de três recentes cortes na taxa de juros, ampliando as dificuldades para quem tenta entrar no mercado.


Os aluguéis também seguem em alta em todas as capitais, levando mais australianos e residentes a dividir moradia ou a voltar para a casa da família. Como relata Sydney Lang para a SBS News, economistas preveem um novo aumento na taxa de juros em 2026.

Estatísticas sobre habitação costumam atrair atenção imediata no país, e as mais recentes não fogem à regra. A nova análise da empresa de dados imobiliários Cotality reforça o quadro de pressão sobre o mercado.

Em novembro, o valor dos imóveis subiu 1% em nível nacional, levando o preço médio de uma residência a 888.941 dólares. Brisbane tornou-se a segunda cidade australiana a ultrapassar a marca de um milhão de dólares para o preço médio de uma casa.

A chefe de pesquisa da Cotality, Eliza Owen, afirma que o segmento de menor valor, tradicionalmente visado por quem busca a primeira moradia, é o que mais impulsiona o crescimento.

Segundo a análise, os imóveis considerados mais baratos no mercado foram os que mais subiram de preço neste ano, com alta de quase nove por cento. Esse aumento superou até o crescimento registrado entre os imóveis mais caros, que foi de seis por cento. Cidades como Brisbane, Perth e Adelaide seguem puxando esse movimento. Só em Perth, os preços avançaram 2,4% no último mês. Em Darwin, a alta acumulada no ano chegou a 17%.

Os dados também apontam aumento na presença de investidores e queda no número de compradores pela primeira vez, uma tendência identificada em outros levantamentos. Para a senadora dos Verdes, Barbara Pocock, isso exclui parcelas crescentes da população da possibilidade de ter a própria casa.

Além da política pública, as taxas de juros seguem como força determinante. A Cotality estima que os cortes promovidos em 2025 elevaram o valor dos imóveis em 7,5% nos últimos 12 meses. O ritmo mais brando observado em novembro indica que muitos compradores já atingiram o limite do próprio poder aquisitivo.

Owen explica que o salto nos preços anulou o ganho oferecido pelos cortes. A consultoria calcula que a capacidade de financiamento de uma família com renda mediana aumentou 55.000 dólares, enquanto o valor das residências subiu 60.000 dólares no mesmo período.

Indicadores de acessibilidade do trimestre encerrado em setembro revelam ainda um novo recorde: o preço mediano dos imóveis equivale a 8,2 vezes a renda familiar anual antes dos impostos. A fatia da renda necessária para pagar um financiamento no valor mediano chegou a 45%, também recorde. Para Owen, isso ajuda a explicar a concentração crescente da demanda no segmento de menor valor, mesmo entre pessoas com renda média e alta.

Para quem vive de aluguel, o quadro é mais severo. Os valores subiram cinco por cento no último ano, o maior avanço anual em doze meses. Pocock afirma que muitas pessoas estão sendo deixadas para trás e critica o sistema tributário, que, segundo ela, alimenta o problema.

A crise de moradia também é influenciada pela baixa oferta. Construtoras relatam entraves na execução de políticas que ampliariam o estoque de habitação social, acessível e de imóveis destinados exclusivamente à locação.

A Cotality calcula que há hoje dez por cento menos imóveis disponíveis para venda do que há um ano e seis por cento abaixo da média dos últimos cinco anos. Apesar disso, uma eventual queda na demanda — impulsionada por menor imigração e por famílias que se unem para dividir custos — não deve ser suficiente para conter totalmente a pressão sobre os preços.

Owen aponta que o equilíbrio entre custos de vida altos, limites de acessibilidade e juros estáveis por um período prolongado pode restringir o crescimento do crédito e moderar a demanda. No entanto, a oferta limitada continua a sustentar o mercado, já que proprietários hesitam em vender em condições desfavoráveis e construtoras adiam novos projetos quando os sinais de preço não estimulam a produção.

Esse descompasso deve manter a pressão sobre os preços e sustentar aumentos pelo menos até 2026.

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