Sofrendo com alergia na Austrália? Você não está sozinho

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"A Austrália é conhecida como a capital mundial das alergias," diz Kirsten Perrett, diretora do Centro Nacional de Excelência em Alergia. Source: Pixabay / Corina / Pixabay

O número de australianos que vivem com alergia dobrou em quase 20 anos, de acordo com um novo relatório, que examina os custos financeiros e pessoais dessa condição que é crônica para muitas pessoas.


A demanda atual por serviços não tem precedentes, e especialistas alertam que a alergia não afeta apenas a saúde, mas também a saúde mental.

Bec Gillespie vive com um medo constante.

A assistente social de Camberra é mãe de duas meninas gêmeas, Abigail e Eloise, nascidas em 2022.

Em 2023, Abigail teve uma reação extrema de anafilaxia a comer ovo enquanto jantava em um restaurante, nas primeiras férias da família.

"E desde então, isso impactou cada parte da nossa vida diária. Um pequeno ingrediente errado, e a vida do seu filho pode estar em risco em minutos. Então, como mãe, você realmente carrega esse medo para onde quer que vá."

A irmã Eloise também teve reações mais leves a alimentos, e exames médicos mostram que Abigail — que sofreu uma segunda reação anafilática poucos meses após a primeira — também pode ser alérgica a frutos do mar e castanhas de caju.

Bec diz que controlar a alergia da filha tem um custo emocional e prático enorme.

"É bem corrido. Quer dizer, afeta o seu dia a dia. Você tem que ler cada rótulo, tem que fazer todas as perguntas, tem que se lembrar, tem que carregar adrenalina para onde quer que vá, até as coisas simples, como sair para jantar, festas de aniversário, viajar, exigem muito planejamento cuidadoso e ponderado. Tenho ficado bastante ansiosa até com a ideia de eles irem para a creche e deixá-los com a família, porque temos que depender muito da educação e preparação dos outros também."

Um novo estudo da Deloitte Access Economics descobriu que quase um em cada três australianos vive com algum tipo de alergia.

Esse número dobrou nos últimos 18 anos — de 4,1 milhões em 2007 para 8,2 milhões de pessoas que sofrem alergia.

A professora Kirsten Perrett é diretora do Centro Nacional de Excelência em Alergia e do Instituto de Pesquisa Infantil Murdoch.

Ela diz que as causas desse aumento dramático são multifacetadas.

"Sabemos que os genes e nossa composição genética são um fator, mas é o ambiente que mudou tão significativamente. Então, temos mudanças no pólen, temos mudanças na poluição. Temos muitos irritantes e produtos químicos na comunidade, no meio ambiente.

"Mas acho que o que também estamos vendo é o estilo de vida moderno, a higienização, o uso de antibióticos, e estamos realmente mudando a forma como vivemos no mundo moderno, e é isso que temos visto como resultado: o rápido aumento das doenças alérgicas nos últimos 30 a 40 anos."

Uma nova pesquisa realizada em cerca de 17 mil domicílios pelo National Allergy Centre of Excellence descobriu que o Território da Capital Australiana (ACT) tem as maiores taxas de alergia na Austrália.

A rinite alérgica afeta cerca de 24% dos australianos, a alergia a alimentos cerca de 7% e a alergia a medicamentos cerca de 5%.

"A Austrália é conhecida como a capital mundial das alergias, e esse não é um título que qualquer país gostaria de ter, mas isso se baseia principalmente nas taxas de alergia alimentar, onde temos as maiores taxas de alergia alimentar na infância em todo o mundo, e essa prevalência é de cerca de 10 por cento de todas as crianças com alergia alimentar na Austrália," diz a professora Kirsten Perrett.

O novo relatório da Deloitte também calcula o custo finaceiro para quem sofre de alergias e suas famílias, revelando o preço do tratamento da condição é de pelo menos AU$ 2.400 por pessoa e AUS 18,9 bilhões em nível nacional.

Isso inclui custos com assistência médica e perda de produtividade.

A pesquisa também revelou que os custos não financeiros — que medem dor e sofrimento, bem-estar e qualidade de vida — são muito maiores, em torno de AU$ 44 bilhões.

A diretora do Conselho Nacional de Alergia e CEO da Allergy & Anaphylaxis Australia, Maria Said, diz que as descobertas do relatório não foram uma surpresa, dada a demanda sem precedentes por serviços de apoio a pessoas alérgicas.

"A demanda por nossos serviços, a necessidade de mais informações, os desafios que as pessoas enfrentam — há um aumento nas hospitalizações, um aumento nas reações, um aumento no número de pessoas tentando controlar rinite alérgica, pessoas com alergia a insetos e assim por diante."

Para Bec Gillespie, navegar pelo sistema de saúde e encontrar apoio foi complicado.

Ela diz que ficou decepcionada com a falta inicial de orientação de hospitais, clínicos gerais e pediatras.

"As reações alérgicas não foram levadas tão a sério quanto eu esperava desde o início, e só neste ano, quando elas têm três anos de idade, começamos a investigar os problemas alérgicos e a consultar um alergista, um imunologista e coisas do tipo. Mas há poucos especialistas em Camberra, então as listas de espera são longas. E sim, também é bem caro."

A Professora Kirsten Perrett defende que este último relatório comprova a necessidade de maior investimento em pesquisa e serviços para tratar e prevenir o aumento das taxas de alergia na Austrália.

"As doenças alérgicas não têm recebido a atenção que merecem. E este relatório mostra que as doenças alérgicas são um problema extremamente significativo para os australianos, afetando um em cada três australianos, ou seja, quase todas as famílias."

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