Há pouco mais de um ano, Inês trabalhava como engenheira em Aveiro, quando decidiu que estava na altura de trocar o certo pela aventura. A vontade de descobrir o mundo sobrepôs-se a tudo o resto, e assim, em junho de 2024, Inês deixou o país que a viu nascer e crescer de mochila às costas.
Esta mulher de apenas 29 anos é natural do Porto e explica que ter-se despedido para concretizar este sonho levou-a à convicção de que tudo faria para que esta não fosse uma viagem qualquer. Inês quis garantir que a experiência valia o risco que estava a correr. Definiu então o seu grande objetivo: aprender a velejar a chegar à Austrália num barco à vela. Mas será que este objetivo viria a cumprir-se?
Esta experiencia mudou completamente a minha forma de ver a vida, a minha forma de encarar o que me vai acontecendo ao longo do tempo.Inês Rodrigues
Ao longo de mais de seis meses, Inês atravessou de facto o Pacífico, e pisou a Austrália, pela primeira vez, no passado dia 1 de agosto de 2025, ou seja, um ano e dois meses após ter deixado a sua terra natal.
“Desejei tanto isso, andei sempre à procura de barcos que pudessem chegar nesta altura do ano à Austrália. Ver que tinha, realmente, atravessado o Pacífico, que tinha, realizado um sonho... Sentes um poder incrível, uma realização imensa. É mesmo difícil de explicar.”
Antes de iniciar a sua travessia de barco, Inês apanhou inúmeras boleias em terra. Partiu do Porto, em Portugal, e foi até Lagos. Depois, Tavira, seguida de Huelva, em Espanha. Em Huelva, Inês apanhou um ferry até Gran Canaria e Tenerife, e daqui voou até ao México. A jovem voltou às boleias no México e, entre muitas estradas de terra batida e pneus furados, fez Belize, Guatemala, El Salvador, Honduras, Nicarágua, Costa Rica e Panamá.
Entre muitas mais aventuras, nesta primeira fase da viagem, Inês acampou em bombas de gasolina, em restaurantes perto da praia, em postos da polícia e até dos bombeiros. Tudo viria a mudar no Panamá. Aqui abriu-se caminho em direção ao seu principal objetivo: aprender a velejar e chegar à Austrália de veleiro.

Inês Rodrigues na sua travessia de um ano e dois meses pelo Mundo.
Foi realmente uma experiência de largar o telemóvel, largar a televisão, largar tudo aquilo que costumas fazer na vida comum e apreciar a natureza, ouvir o vento.Inês Rodrigues
Partilhamos de seguida mais destaques sobre esta conversa:
“Na Polinésia Francesa vivemos bastantes aventuras em ilhas muito remotas. Às vezes ilhas sem qualquer população. Eram ilhas de areia branca, com as palmeiras e os cocos que uma pessoa está habituada a ver em filmes e não está habituada a vê-los na vida real. Eram as estrelas, os peixes na água. Golfinhos, mantas, tubarões. Corais, os corais muito muito coloridos.”
“Já com o pôr do sol a aparecer, aparece-nos uma baleia gigante, do tamanho do veleiro onde eu estava e passa assim à nossa frente, à frente do barco e deixa-nos sem palavras. Foi mágico.”
“A maior passagem que eu fiz foi de quarenta dias. Quarenta dias, quarenta noites. Que foi então do Panamá para as Marquesas.”
“Não foi uma viagem fácil. Nunca é fácil para ninguém deixar o próprio país, deixar uma vida estável, deixar os amigos e família. Dá medo, sim, dá bastante medo. Mas realmente foi um sonho. Portanto, se tu tens um sonho, tens que ir atrás dele e fazê-lo cumprir. É fazer com medo.”
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